AVISO IMPORTANTE:

* Nossa casa fica em Porto Alegre (RS), Av. 21 de Abril, 1385, Vila Elizabeth, Bairro Sarandi. * Dia 4/3/23 não haverá Gira (trabalho externo) * Dia 11/3/23 voltamos ao horário normal das Giras de Pretos Velhos, aos sábados, 15h

segunda-feira, 30 de dezembro de 2019

Orixá Regente de 2020

Por Cândida Camini

Quem irá reger este ano é você mesmo, através da sua intuição, das suas crenças, das suas atitudes e da sua fé, a começar pela fé em si mesmo.
E, claro, poderá sofrer a influência das energias predominantes, seja de um Planeta, de um Orixá, de um Santo da sua devoção, enfim....
Se você frequenta ou trabalha em um Terreiro, seja de Umbanda, seja de Batuque, siga a orientação do mesmo, pois varia de Terreiro para Terreiro.
Na Casa Pai Joaquim de Cambinda, não temos esta preocupação, ou seja, poderá sim existir uma energia predominante, mas acreditamos que o mais importante é aquilo em que você acredita e como vai agir de acordo com esta crença.
Mas se você faz mesmo questão de entrar o ano com as cores dos Orixás regentes, costumávamos seguir o dia da semana que começa o ano, no caso de 2020, quarta feira, dia de Xangô e Iansã. Aqui no Sul, marrom representa Xangô e vermelho e branco, Iansã.
Xangô, trazendo o conhecimento e a justiça.
Sendo assim, tire suas conclusões.
Em 2016 escrevi um texto a respeito aqui no Blog.
Clica no link abaixo para ler mais:


sábado, 23 de novembro de 2019

Quando o coração fala [15]


Por Juliana Bálico

Sempre fui de ler os relatos publicados pelos irmãos de corrente no Blog do Terreiro, e até então, uma única vez tive o privilégio de escrever sobre a Preta Velha que me acompanha, a Maria Redonda. E na última quinta-feira, após o assentamento do Amaci, venho falar sobre uma outra Negra, mais especial ainda.
Há um bom tempo, algumas pessoas me perguntam o motivo de não trabalhar com os meus Protetores durante as Giras, o motivo de não os receber nessas oportunidades para me descarregarem, para me harmonizarem, para libertarem as amarras que ainda sinto em meu corpo com relação aos trabalhos e minha única resposta é que não estou pronta ainda, a insegurança persiste, mas quem sabe aos poucos, né?

Nos últimos meses, semanas e dias venho sentindo uma energia que se aproxima, sussurra algo em meu ouvido e se afasta, ou apenas surge aquele pensamento estranho até mesmo “sem sentido”. Eis que chegou o momento de sentar, colocar uma música tranquila e a necessidade era de que tivesse uma cachoeira no fundo e apenas me colocar à disposição e escrever...
Em meados de 1853, uma negra escrava, parteira, de 55 anos, foi chamada às pressas para a  casa grande, para ajudar a Senhora a dar à luz ao bebê que estava em seu ventre. Como todo trabalho de parto, este não foi fácil, algumas complicações ocorreram, mas a negra sempre tinha uma palavra para confortar e uma reza para acalmar, enquanto fazia seu trabalho. Horas depois do bebê nascer, a negra é chamada novamente para que, dessa vez, ajude a Senhora a cuidar de sua filha. Ela aceita, mas informa que não seria por muito tempo, pois outras mães precisariam de sua ajuda para darem à luz e ajudar nos primeiros dias de vida da criança.
A negra escrava sempre sonhara em ser mãe, mas o mais próximo que chegava deste sonho era nos partos que realizava e nos dias em que ajudava as mães. Tendo em vista as inúmeras vezes que acabou apanhando por tentar salvar seus “filhos de coração”, essa negra não poderia ter filhos. Esse sentimento materno sempre foi muito presente em sua vida, todas as crianças a rodeavam e ela sempre estava disposta a dar atenção merecida a cada uma, como se fossem seus próprios filhos.
Hoje teremos mais um encontro, mais um firmamento e mais um ano dividindo este sentimento enorme de amor e gratidão pelo próximo.
Tenham certeza que as lágrimas que escorrem neste rosto, são de felicidade, são dos reencontros, são do mais puro amor!
E aos que ela protege e guarda, tenham certeza que fazem parte deste grande coração de mãe, que pertence à negra Zuma.


Juliana Bálico
Filha de Oxum e médium da CPJC 





Ora iê iê ô, Oxum!

Salve, negra Zuma!






sexta-feira, 15 de novembro de 2019

Umbanda, 111 anos!


Umbanda, ahhhh a Umbanda!
Mais do que uma religião, um caminho, uma luz, um alento....
Quem me conhece sabe que ela caiu de paraquedas na sala do nosso apartamento, a 17 anos.
Caiu de paraquedas na minha vida, na verdade, porque o Ricardo já estava trilhando este caminho a bem mais tempo que eu.
E eu?  Bem, no início pareceu fácil, aliás, fui eu quem teve a idéia (ops, foi mesmo?) de iniciar os atendimentos no apartamento.
Mas depois, vixi, como foi difícil quando caiu a ficha.
Ainda é, não dá pra dizer que é fácil!
Mas diz aí, tem missão fácil?
Se é fácil não é missão, é merecimento.
Então, sigamos, por mais 17 anos ou tantos quantos forem necessários.
15 de novembro, 111 anos de Umbanda no Brasil!
Salve todas as Linhas e Falanges!
Salve Pai Joaquim de Cambinda, nosso amado dirigente!
Salve Ogum Beira Mar, nosso eterno comandante!
Salve todos os Guias que nos acompanham!

quarta-feira, 9 de outubro de 2019

Agradeça...


Por Cândida Camini
Vamos fazer um exercício aqui?
Feche os olhos e crie uma imagem surreal.
É noite, fria, chuvosa, e você está encolhido(a) embaixo de uma ponte, ou marquise, na rua, mal agasalhado(a) e sem ter o que comer.
Nem um cachorro está ao seu lado para aquecerem-se mutuamente.
Conseguiu imaginar? Procure sentir o frio, a fome, o abandono. Não desista, insista neste exercício, é importante.
Após viver intensamente esta sensação, abra os olhos, perceba a sua realidade e agradeça..
Agradeça pela casa humilde e pela pouca comida, embora suficiente.
Agradeça pelo emprego que você não gosta.
Agradeça pela saúde que lhe possibilita procurar um trabalho.
Agradeça pela familia com a qual você tem divergências.
Agradeça por saber ler, escrever.
Agradeça pelos amigos, mesmo que poucos, ou apenas um, que está sempre ao seu lado, quando você precisa.
Agradeça pela sua fé, que lhe permite acreditar que mesmo na adversidade, tudo poderia ser muito pior.
A imagem pode conter: texto e natureza
E que você está no lugar em que deve estar, fazendo o que precisa ser feito, com as pessoas que precisam estar ao seu lado.
E que lhe dá forças, para mudar aquilo que não está exatamente como deve ser.
E sabedoria para aceitar ou mudar.

domingo, 6 de outubro de 2019

Quando o coração fala [14]

Por Rose Sobrinho

A Rose não é só uma médium deste Terreiro. É uma amiga das antigas, do tempo que não éramos exatamente amigas rsrsrs Mas esta é uma outra história, bem mais antiga.
O relato que transcrevo a seguir é de dezembro de 2018, um tanto longo, mas não me atrevo a cortar muita coisa, porque todo ele é muito relevante a qualquer médium, esteja ele no início ou lá adiante nesta caminhada.
Vale à pena a leitura:

Faz alguns dias que sinto a presença de alguém que não consigo identificar como sendo dos guias que trabalham comigo, ou como em situações que ocasionalmente ocorrem de guias de outros médiuns ou mensageiros que simplesmente transmitem alguma orientação, mesmo não sendo trabalhador habitual de incorporação. Uma energia muito intensa e muito salutar. Ao mesmo tempo em que se fez muito potente, de muita força, é também de uma tranquilidade, muita serenidade. Uma paz interior muito grande. Eu sinto que essa energia ao longo dos dias vem interferindo no meu temperamento, no meu comportamento diário. Algumas situações ocorreram e foram administradas de maneira totalmente diferente do que normalmente são. Sem os questionamentos, ponderações e argumentações costumeiras da minha personalidade.
Percebi que estava resolvendo as coisas de maneira diferente 100% do que faço há 52 anos. Isso me fez enxergar que a presença desse SER estava interferindo no meu entendimento e tratativas das questões, que estava me conduzindo para agir diferente. Claro que acolho as orientações, mas por mais estranho que possa parecer, fico ligada analisando e buscando os porquês em cada sensação ou intuição que surja. Não tenho ainda a tranquilidade de conviver com isso e me jogar de cabeça sem estar investigando e às vezes, resistindo a tudo isso.

Diferente de quando estou nas giras. Ali, eu me sinto à vontade de deixar rolar sem a minha interferência constante. Claro, quando tem situações inusitadas, automaticamente meu consciente fica presente (em outro momento, acho que falaremos sobre isso). E após esses dilemas familiares serem tratados, eu fiquei pensando no quanto que fui conduzida durante todo tempo. De 8 ou 80, normalmente eu sou 800.
E na terça-feira, novas preocupações referentes a deixar a casa sozinha e ir trabalhar começaram a tomar conta da minha mente. Um receio gigantesco, e a cabeça funcionando a milhão para achar tentativas de ficar em casa e não sair. Quase um pavor inexplicável. 
No instante que comecei a ficar preocupada, veio a imagem do Guardião na minha mente. Ele é um amigo que convivemos à noite em trabalhos de socorro espiritual durante meu sono e que de uns tempos pra cá tem sido presença nos meus dias também. Assim como sinto a presença dos demais. Benedito, Ogum, Padilha, Caboclo e todos os outros. Às vezes me energizando, outras me aconselhando. Só que demora pra cair a ficha, e quando cai, a gente percebe que tudo isso já está rolando faz certo tempo.
E voltando lá para a minha preocupação com a casa. Ao mesmo tempo em que eu ficava preocupada, logo sintonizei com o Guardião e ele se mostrou tal qual como a primeira vez que o vi, e daí ele me deu a segurança que ele estaria cuidando da minha casa. Que eu deveria ir trabalhar em paz, tranquila, feliz, alegre. Levar a felicidade para as pessoas. Foi mais ou menos isso. Uma lembrança de que é isso que eu tenho que fazer. Estar bem e transmitir esse “meu estar bem” para as pessoas. Levando sempre uma palavra de conforto, um ombro amigo. Ser uma paz, igual a que ele estava me transmitindo. E ai fui trabalhar tranquila. Claro, como humana, lá pelas tantas eu lembrava da casa e ficava acompanhando as imagens pela câmera, mas daí lembrava do conselho dele e focava no trabalho e nas pessoas.
E daí que chega a quarta-feira. Dia da gira. Cheguei cedo. Estava sem entender muito bem o que estava rolando. Meio alienada. Fui me trocar. Fiquei no salão aguardando a hora. E já começou a rolar uma energia semelhante a que identifico como do Caboclo Cobra Coral. Meus olhos pareciam uma bola de fogo. Mas a ardência não era uma coisa ruim. Apesar de remeter a uma ardência semelhante de uma pimenta no olho, não era essa ardência que retrata sofrimento ou dor. É difícil explicar. Enfim, olhei para um irmão de corrente e comentei com ele que estava rolando umas trocas energéticas que eu não estava sabendo explicar. Mas estava convicta que não eram energias ruins ou qualquer dificuldade que teríamos durante a gira. Era uma sucessão de energias diferentes, Compadres, Comadres e Caboclos. E eu sempre com os olhos voltados para acompanhar este médium. Ele caminhando durante a abertura do trabalho como se estivesse fazendo um esforço para trocar os passos. Creio eu que pela intensidade energética que ele estava envolvido, assim como eu.
Nós dois com muita frequência vibramos na mesma sintonia e as energias são trabalhadas de formas bem parecidas. E quando estamos perto fisicamente, essa interação flui de uma maneira acumulativa, se é que dá para definir dessa forma. Mas é mais ou menos assim que eu definiria. Acontece assim também com alguns outros irmãos de corrente (hehehehehe, nas primeiras vezes todos eles evitavam ficar muito próximos de mim). E muitas conversas eu tive com Pai Joaquim para me certificar que isso era perfeitamente normal.
“Normal”? Dentro da CPJC, sim. Em qualquer outro lugar, não. 
Pois bem, fui intuída a ficar mais afastada dele.

Trabalhos abertos, chegam os Caboclos. Começa uma troca frequente de energizações. Iemanjá, Iansã, C. C. Coral, Caboclos, Comadres... No meu corpo físico essas oscilações de energias começaram a atuar de uma maneira que me vi em forma de espiral, principalmente a região da coluna vertebral. Parecia uma mola de caderno sempre em movimento tanto para cima e para baixo como para os lados. Nesse momento, não registrei mais o ambiente do Terreiro, somente esse espiral e dentro dele circulava as energias de todos eles. Estava ficando difícil me manter em pé porque quando parecia que ia firmar a incorporação, ela não acontecia. Na continuação acontecia aproximação de outra entidade, alterando as energias já que cada guia espiritual tem sua manifestação e vibração própria. Foi muito doido, mas infinitamente gostoso viver esse momento. Na hora não consegui relaxar muito e agora sinto que poderia ter sido ainda muito melhor. Quem sabe na próxima vez.
Começaram os atendimentos. Inicialmente, a energia do Exu das Almas, quando interagi com ele, se afastou. Em seguida, senti a energia do Capa Preta.
Quando o consulente parou na minha frente, chega uma Pomba Gira.
Quando começou a conversa já era uma Malandra, logo em seguida o Zé Pilintra.
O tempo inteiro do atendimento essa troca.
Eu sei que isso é comum para vários médiuns. Mas me chamou a atenção nos aconselhamentos, que no geral eram dentro da mesma linha de pensamento mesmo sendo assuntos diferentes nas consultas. O que eu acho que normalmente identificamos como entendimento universalista. Fazia menção ao certo e errado, ao diferente baseado nos nossos questionamentos mais corriqueiros na prática da Umbanda quando inicia formas novas de trabalho. As formas de fazer o bem, de fazer a caridade, de dar amor. Independente de crença. Independente de estar inserido em algum grupo fraterno.
Parecia uma mistura de consulta de Preto Velho, Oriental e Mães das águas. Sabedoria, serenidade e muito amor envolvido.
No final da gira alguns médiuns foram pedir passe, pedir para serem harmonizados, trocar um abraço, conversar ou somente cumprimentar. E o tempo todo houve troca de mensageiros acontecendo e a transmissão de informações para meu mental também. Nesse momento quem mais se manteve à frente foi a energia de Iemanjá, embora outro fizesse o uso da palavra para responder.
Os passes foram de firmeza entre o médium e seus guias.
Intuitivamente, não que houvesse um questionamento ou uma crítica. Acho que essa intuição veio para eu interpretar melhor o que estava acontecendo.
De que precisa disso sim, de tomar um passe, descarregar, harmonizar. Mas que existe a necessidade de se apropriar de todo esse aprendizado. De firmar com seus mentores. De que tem que haver uma definição. Que apesar de fazer parte da casa, de ter uma frequência nos estudos, de integrar a corrente, existe um adiamento para fazer a escolha de como vão usar esse aprendizado.
Muito igual à leitura de um bom livro. Devemos compartilhar o conhecimento.
Ler e guardar na gaveta ou deixar em uma estante é abrir mão de construir consciências.
Que ainda existem receios de fazer a escolha definitiva e que isso é normal.
Um dos atendimentos foi bem específico e fez-me perceber comparando com os demais, que faz sentido...
Iniciamos uma caminhada e já adquirimos condição de fazer por nós com a mesma eficiência. De orientar e harmonizar a si mesmo com a mesma eficiência que estava sendo feito por eles incorporados em mim. E que essa condição provém das opções e escolhas assumidas.
Que quando estamos nos sentindo bem, fizemos um esforço para ficar nesse estado. Buscando uma participação sem muito envolvimento coletivo na tentativa de permanecer se sentindo bem.
Receber o seu protetor para trabalhar as energias que estão desarmonizando os outros pode deixar resquícios e ao terminar talvez não esteja mais se sentindo tão bem e na plenitude de como estava antes. E aí a gente escolhe não incorporar. Escolhe só vir na gira. E essa não é a escolha mais acertada.
De que há uma urgência de que a gente amadureça e use esse amadurecimento.
Pra que a gente não fique brincando. E não se trata de brincar no sentido literal da palavra, de ignorar ou desfazer, mas brincando no sentido de que não faz bem para nenhuma pessoa que chegue ao estágio de médium em uma corrente mediúnica assumir uma posição de limitação por opção de conforto. Porque quando a gente faz pelo outro está recebendo o que precisa para ficar melhor ainda.
E aí eu acho que eles resolveram mostrar isso através de mim, por conta da minha trajetória na umbanda.É respeitada essa escolha, é permitido pelos dirigentes espirituais, mas a mensagem é de que a gente tem que parar para pensar até aonde vai se “arrastar” na indecisão, no comodismo. Porque não é por insegurança, é por entendimento equivocado do compromisso do médium com o grupo que ele faz parte, com as pessoas que vão ali para buscar ajuda.
No Ritual do Amaci de 2016 um ciclo encerrou-se. 2016 foi um marco onde as coisas difíceis de serem administradas com todo esse envolvimento energético, de incorporação, de desobsessão, de regressões às minhas faltas, às minhas necessidades e às minhas superações. A recuperação do meu equilíbrio na balança da existência do meu ser, que é além dessa encarnação foi muito sofrida. Foi uma fase que eu comparo com uma doença muito grave. Teve dias que eu quase fraquejava. Não na fé. Isso sempre eu agradeço, porque a fé sempre se fez presente. Foi por ela ser tão intensa dentro de mim, essa certeza cega que eu tinha de que eu precisava superar esses momentos difíceis e que eu não deveria me acovardar mesmo quando das obsessões (talvez o termo não seja o mais adequado). A busca por socorro individual e coletivo era sempre. Tanta gente usando as minhas energias. Mundo espiritual e encarnado. Na época isso me derrubava, deixava fragilizada, desesperada e até às vezes com sentimento de desamparo.
Mas eu fiz uma escolha. E foi nos momentos de maior provação e de sofrimento que eu tinha essa certeza de que a minha escolha tinha que ser a de seguir em frente. Não deixar que a dor que sentia impossibilitasse de eu me colocar à disposição para tirar a dor de tanta gente.

Nesse período, o Guardião que me acompanha e o Pai Joaquim me levaram ao local onde os espíritos sofredores eram resgatados com o auxilio de alguns médiuns da Casa Pai Joaquim. Sabendo disso, todas as dificuldades vividas com a mediunidade deixavam de parecer gigantescas e o fardo se tornava mais leve.
É contraditório tudo isso. Estar em ataques diários e insistir na caminhada. 

Na verdade, com certeza, meus guias sabiam que o caminho para minha libertação era esse e eles que me despertavam esse sentimento tão convicto, tão firme de doação. Não querer jogar a toalha como seria o mais comum, porque como todo humano é normal que se tenha o entendimento e se queira somente o que dá alegria, riso solto e leveza. Que se viva com o menor número de dificuldades. É compreensível querer evitar situações diferentes. Porém, nem todos os caminhos são iguais.  A grande maioria desconhece seus feitos, suas dívidas, seus tormentos. A grande maioria cria a ilusão de que a contribuição para a caridade e sua própria evolução fica no âmbito de não faltar aos compromissos. Esse entendimento leva a um desperdício de tempo e oportunidade de crescimento. Não há tempo para brincar com a vida. A chance de uma existência terrena acumulada ao exercício mediúnico é de grande responsabilidade, única e exclusiva do médium. Só ele pode conquistar o equilíbrio e conquistar dias melhores. As entidades, o estudo, a prática alinhados à aceitação de que fazendo para outro o que almejamos para nós é início do nosso socorro mais intimo, talvez daquele socorro que nos assombra, mas que ainda está encoberto pelo medo oculto do nosso passado.



Saravá, Umbanda!


Rose Sobrinho
Médium da Casa Pai Joaquim de Cambinda

domingo, 25 de agosto de 2019

Maturidade

por Cândida Camini

Maturidade não tem nada a ver com idade.
Maturidade tem a ver com respeito, com consciência de quem somos e o que viemos fazer.
Respeito por aquele que já caminhou mais, consciência de que às vezes estamos aquém daquele que já vai lá adiante e precisamos não exatamente seguir seus passos. Mas se optarmos pelo mesmo caminho, precisamos no mínimo observar as pegadas e aprender com elas e isto se chama humildade.
Aprender que além do caminho em si, precisamos prestar atenção naqueles que caminham ao nosso lado e, porque não, e principalmente, naqueles que estão caídos na beira dele e isto é solidariedade.
Se mantivermos somente o olhar fixo em nossos pés, não vamos enchergar as pedras e inevitavelmente iremos tropeçar nelas.
Também não veremos as flores e nossos olhos serão privados deste encantamento e isto é foco.
Por vezes, é aconselhável trocar as sandálias com o irmão de caminhada e entender as suas dificuldades, o seu esforço e chamamos isto de empatia.
E quando chegarmos lá no fim deste caminho, talvez possamos compreender o significado do amor.


sábado, 27 de julho de 2019

A pajelança no terreiro do Pai Joaquim


Por Sônia Corrêa

A tribo encravada no povoado que hoje é conhecido como Vila de São Jorge, na Chapada dos Veadeiros, interior de Goiás, originalmente, vivia do plantio de milho, mandioca e criação de animais. Tempos depois, a aldeia foi sendo cercada por exploradores de cristal e seu espaço foi reduzindo e houve muita luta pela defesa do território.

Enquanto as meninas da comunidade se embrenhavam no cultivo da subsistência, Tainá Uyara se escondia para espionar o feiticeiro no exercício da cura e no manuseio das ervas. Ela se encantava com o milagre que transformava moribundos em pessoas saudáveis, através dos chás e unguentos usados pelo pajé.

Entretanto, o que arrebatava a menina era a capacidade do curandeiro em se conectar com os deuses da floresta e com os ancestrais, num ritual de fogo, folhas e fumaça cheirosa. Tainá Uyara arregalava os olhos e avigorava sua capacidade auditiva e de memória para ouvir e arquivar cada palavra proferida pelo feiticeiro.

Durante meses a menina comboiava e espreitava o pajé, certa de que não era notada. Até que, numa tarde, enquanto o velho índio se preparava para mais um ritual, no meio da floresta, ele assobiou para que ela saísse de traz da árvore e fosse até ele. Assustada, Tainá Uyara aproximou-se, certa de que receberia alguma represália.

O pajé, no entanto, conduziu o ritual com tranquilidade, mostrando a ela cada ato e explicando o significado de cada elemento. Ao voltar para tribo, o sacerdote foi ao cacique e chamou os pais da menina para assegurar autorização para que Tainá Uyara passasse a acompanhar a lida do feiticeiro e aprender o ofício.

Embora o cacique tenha ponderado o fato de tratar-se de uma menina, o sacerdote convenceu a todos que não havia impedimento para o manuseio das plantas medicinais e, nem mesmo, para que a menina se tornasse uma sacerdotisa e se conectasse com os espíritos.

Desde então, Tainá Uyara passou a aprender todos os rituais, a conhecer os chás e ervas para cura de doenças, a receber as mensagens dos deuses e ancestrais da floresta e a dominar o fogo das pajelanças. Passaram cerca de 20 anos até o dia que o feiticeiro morreu.

Tainá Uyara coordenou os rituais de despedida do curandeiro e, pela primeira vez, assumiu sozinha a taba de cura da aldeia.

As crenças e rituais religiosos daquela tribo eram baseadas nas forças da natureza e nos espíritos dos antepassados e era para eles que se faziam rituais, cerimônias e festas. Tainá Uyara era o responsável por transmitir estes conhecimentos aos povos da tribo. Ela assumiu a figura de conselheira, curandeira, feiticeira e mediadora espiritual da comunidade.

Tainá Uyara se destacava pela evidência de seus poderes sobrenaturais e a capacidade de expulsar espíritos malignos e doenças das tribos. Orientada pela ancestralidade, ela também desenvolveu técnicas de transmissão de cura pela potência das mãos, com massagens, ou apenas emanando energia. Outra prática desenvolvida por ela foi a utilização de ervas, raízes e sementes em banhos medicinais.

A pajé Tainá Uyara também revolucionou o conhecimento da aldeia. Pela sua experiência de vida, ela compreendia a importância de formar novos curandeiros. Mesmo respeitando a hierarquia e defendendo que a figura do pajé era determinante para o prosseguimento da cultura da sua tribo, ela achava que os conhecimentos básicos de cura deveriam ser acessíveis a todos.

Assim, Tainá Uyara ensinava as crianças e as mulheres da tribo os primeiros socorros e as ervas para utilização de enfermidades menos complexas. Ela viveu até os 97 anos, sem jamais deixar de exercer o ofício. Morreu dormindo.

Numa noite, Tainá Uyara, com aparência entre 50 e 60 anos, veio me visitar em sonho. Ela foi logo anunciando que iria trabalhar comigo, no terreiro do Pai Joaquim e destacou, com muita ênfase que era brasileira e que, portanto, não iria trabalhar com rituais xamãs, mas com pajelança.

Eu confesso que não entendi nada pois, embora já tivesse assistido um ritual de pajelança na Bahia, em 2015, num encontro de povos originários, não sabia a diferença entre xamanismo e pajelança. Para falar a verdade, nem sabia que havia alguma diferença, ou o que se fazia em cada um dos rituais.

Tainá Uyara realizou um ritual, diante de mim, durante o sonho. Nele, ela segurava um maço bem grande de folhas verdes, enquanto uma fogueira queimava ao seu lado. Ela batia as folhas em seu próprio corpo e falava mantras indecifráveis. Depois, jogou o maço de folhas sobre o fogo e isso gerou uma farta fumaça branca. Então, ela se direcionou para o meio da fumaça e se defumou.

Depois disso, ela me explicou que trabalhará com ervas, fogo e fumaça como elementos de limpeza espiritual e cura.

Conversei com o Pai Joaquim sobre o assunto e também com algumas médiuns sobre o trabalho. O Pai Joaquim me explicou que uma das diferenças entre os rituais dos xamãs e a pajelança, está ligada aos elementos de trabalho. Os xamãs têm como referência animais. Os pajés têm as ervas.

Intui que a índia que tem se manifestado com a médium Brenda é da mesma tribo que a da Tainá Uyara. Isso, para mim, ficou mais evidente, quando num encerramento de trabalhos, o Pai Joaquim falou sobre a manifestação de novos amigos espirituais, especialmente, povos da mata.

Tainá Uyara ainda não se manifestou no terreiro, mas voltou a falar comigo em sonho e dessa vez, pude ver que ela usava uma saia de palha, um colar de semente avermelhada, que pesquisei e descobri ser de pau brasil. Hoje, finalmente, ela me intuiu a escrever esse relato.

Sinto-me ansiosa pelo momento em que ela vai se apresentar para o trabalho, embora com um mega frio na barriga. Mas, aprendi que o momento certo é definido pelo senhor do tempo. Eu aguardo.





Sônia Corrêa
Médium da Casa Pai Joaquim de Cambinda.

terça-feira, 23 de julho de 2019

Quando o coração fala [13]

A Vânia faz parte do Grupo de Estudos do nosso Terreiro e, mal começou a frequentar aqui, seu coração falou, ou melhor, gritou rsrsrs Obrigada, Vânia, pelo carinho e por compartilhar conosco.
Segue o relato:

Gratidão

Quando comecei a mergulhar em mim descobri que podia dar forma aos meus sonhos ou aos meus pesadelos.
Quando tive consciência dos meus sentimentos comecei a respeitá-los e não mais a negá-los como vinha fazendo .
Quando comecei a falar sobre os meus medos encontrei pessoas que queriam me ajudar.
Quando comecei a reconhecer os meus pensamentos me dei conta de que muitos não representavam a minha essência - eles eram apenas um reflexo da vazia realidade na qual eu estava inserida.
Decidi mudar.

Parei de gastar dinheiro e energia com passatempos que me proporcionavam alívio para esquecer das minhas dores e decidi encará-las.
Aceitei que ainda não havia encontrado a minha real vocação - era a maior dor que eu sentia.
Desapeguei do que achava que era meu.
Reconheci minhas fraquezas e quando elas começaram a doer, decidi mudar

Adaptei minhas habilidades e decidi colaborar com algo que comovia meu coração.
Percebi que o bem está por toda a parte.
E também entendi que o mundo está cheio de vaidade.
Conheci pessoas que vivem por aparência - e em algumas me reconheci .
Decidi mudar .
 
Assumi minha própria existência como projeto.
Desenvolvi formas de prestar atenção no que mais me agradava e me inspirar no que amor transpirava.
Respeitei meus limites
Percebi que sou parte de algo maior e estabeleci a minha conexão com a natureza.  

Segui em frente.
Vânia Alves

Nesta estrada, encontrei um pouco de paz e percebi de onde ela havia brotado, então passei a persegui-la com mais intensidade.
Reconheci em mim mais amor e bondade.
Compreendi que o meu dom era saudar o lado bom que habitava em cada ser, pois era isso que eu tinha para oferecer.
Assumi meu lema, sem me queixar daquilo que havia deixado.
E então este seria o meu legado.




terça-feira, 23 de abril de 2019

Ogum Beira Mar, 30 anos de história

por Cândida Camini

A primeira vez que conversei  com ele, eu não tinha a menor ideia de quem se tratava.
Sabia apenas que era Ogum, o principal guia de meu marido, que era Umbandista.
Ogum Beira Mar.
Meu ser consciente não sabia quem ele era, mas dentro de mim algo gritava que já nos conhecíamos e que eu podia confiar nele.
Era o ano de 1989, mais exatamente o mês de abril, dia 20 (coincidência?).
Nosso casamento estava sendo posto à prova e eu, como boa filha de Iansã (e nesta época eu nem sabia disto), queria pelo menos entender o que estava acontecendo, antes de seguir em frente, sozinha, como eu achava que ia ser.
Mas aí ele chegou, na sala do nosso apartamento, e me pediu que não o abandonasse, pois eles tinham um plano prá nós e eu era peça fundamental para que ele se concretizasse.
Oi? Como assim?
Não importa e não me perguntem por que, mas eu confiei nele. 
Claro que eu não sabia que isto significava dirigir um Terreiro de Umbanda como este, do contrário estaria correndo até agora rsrsrsrs
Ainda bem que não corri, porque não me arrependo de nada e faria de novo.
Hoje ele é o nosso Comandante.
E eu só tenho a agradecer por confiar em mim, por me orientar, me guiar e me proteger.


Iansã é a dona da minha cabeça, Epahey Oyá!
Mas Ogum Beira Mar, com certeza, está lado a lado com ela a me conduzir.
Ogunhê!
Salve a sua linha!
Salve nossa Sagrada Umbanda!

sexta-feira, 12 de abril de 2019

Jojô, um trabalho de Cosme

Por Déh Martins

Joaquina, ou Jojô como ela mesma se apresenta, a Cosme que trabalha comigo, foi chamada para um trabalho pela Vó Maria Conga que trabalha com a Érika. Era para cruzar uma simples guia para uma consulente, e daquele simples trabalho, que prontamente ela fez cheia de amor e alegria, fomos para outro.
Passou defronte a outra Preta Velha e pediu um papel e uma caneta, feliz só pelo fato da
caneta ser verde haha ela adora! Disse que precisava escrever uma coisa que estava na cabeça da tia, no caso eu. Escreveu o nome e sobrenome com suas letrinhas de criança. O nome era de um rapaz já com 22 anos, com o qual eu convivi boa parte da infância e que sofria de paralisia cerebral. Sempre viveu em uma cadeira de rodas. Ele se encontrava nos últimos dias na UTI de um hospital, com diversas complicações decorrentes de uma pneumonia.
Então Jojô se dirigiu ao congá. Colocou no papel o perfume de mato como ela chama, deu beijo, dobrou, abriu seu pirulito verde que havia ganho, voltou a pegar o papel e encostou-o no rosto. Chupando o pirulito, lá fomos nós.
Chegamos num quarto de hospital. Ela e mais algumas crianças, gargalhando e pulando como de costume. Jojô se debruçou sobre a cama na qual aquele rapaz estava deitado e o mesmo prontamente lhe respondeu com um sorriso. Neste instante, os aparelhos somem, já não existe mais fios e cânulas. Seu corpo, antes atrofiado, deu lugar a um saudável menino de uns 11 anos, que sem hesitar, logo levantou-se e saiu a brincar, chutando uma bola por aquele que já não mais se assemelhava a um quarto de hospital. As paredes se distaciaram, as crianças corriam, brincavam e cantavam. 

Quando olho para onde antes existia uma das paredes, vejo uma árvore enorme, com um balanço para o qual o menino  correu para se balançar, com a ajuda da Jojô. Já não existia mais luz elétrica, a iluminação era do sol que nascia por detrás de lindas montanhas. A extensão fora daquele hospital era como um vale, um campo, um lindo jardim.
Após admirar o quão linda era aquela paisagem, volto a fixar os olhos no que acontecia próximo a mim. Vejo duas Pretas sentadas em dois banquinhos. Sim, aquela moça que dança comigo pelo Terreiro, e outra, a senhora que devagar se locomove pelo salão. Maria Redonda e Maria Conga ali estavam !
As crianças logo cercaram-nas sentados em uma roda, naquele gramado que agora existia ali!
O menino então saltou do balanço atendendo o chamado de Maria Conga, sentou ao seu lado recostando seu corpo no dela, que prontamente passou a alisar seus cabelos.
As crianças conversavam, interagiam junto com as Pretas e era explicado como tudo ia ser de agora em diante, tudo com muita alegria e muito amor.
O sorriso dele iluminava tanto quanto aquele sol ! Era extamente como eu o via quando criança.
Então Jojô sorrindo me disse: - Vamos tia, temos que voltar, já acabamos por aqui.
Em lágrimas eu voltei e isto explica aos que me viram chorar naquela gira.
Ao chegar em casa à noite, minha mãe me deu a noticia que meu amigo havia desencarnado
naquela tarde. Tirei as guias do pescoço, as repousei sobre a mesa e disse para ela sentar. Em meio a lágrimas e muita emoção contei a ela o que conto a vocês agora.
Jamais me esquecerei de como é auxiliar alguém, independente de qual forma seja, ou quem seja.

Déh / Jojô
Sigamos, irmãos de Fé! 
Cada elo é importante, é amor, é caridade é humildade.
Todas as nossas dificuldades de continuar a caminhar nesta estrada de muitas pedras, é e sempre será compensadora.

Avante filhos da Fé!
 


quinta-feira, 28 de março de 2019

História de uma Mulambo

Por Cândida Camini


Inglaterra, meados do Séc.XVI. 
Seu nome era Annie. Ela era só uma criança, mas desde cedo sua sensibilidade era intensa.
Conseguia perceber a aura das pessoas, mas ela não sabia o que isto significava. Apenas sentia.
E quando isto acontecia, na maioria das vezes era algo ruim, que lhe metia medo e a fazia chorar.
Ao ver alguém envolto em sombras, muitas vezes com olhos a lhe espreitarem através delas, ela cobria os olhos com as mãos, chorava e rezava, rezava e chorava.
Enquanto ela rezava, aquelas nuvens negras iam se desmanchando, escorrendo como lodo em direção à terra.
Vivia com a mãe em uma casa humilde, nos arredores da vila onde moravam.
Sua mãe era rezadeira e bastante procurada pelo povo da região, porque além de ter o dom de curar as pessoas, não cobrava nada por isto. Além das rezas, utilizava-se de vários elementos da natureza para preparar suas poções. E por isto, era chamada por muitos de feiticeira.


Toda vez que alguém vinha pedir auxílio, a mãe de Annnie mandava que fosse brincar no quintal, mas ela ficava espiando pela janela e repetia o ritual de chorar e rezar, rezar e chorar, sempre que alguém chegava envolto naquelas nuvens negras.
Os anos foram passando, Annie era já uma linda moça, inconformada com a vida pobre e humilde e quando completou 18 anos sua mãe decidiu que era o momento de ensinar a ela o seu ofício. A princípio ela não gostou da idéia, mas logo achou que poderia lucrar com isto e realizar o seu sonho, que era sair daquela vila pobre e ganhar o mundo.
Às escondidas de sua mãe, começou a oferecer seus serviços e cobrar por eles. E, diferente dela,  passou a trabalhar para atender todos os pedidos, fossem para o bem, fossem para o mal, desde que pagassem. Claro que a ela juntaram-se seres das sombras, que se alimentavam daquela energia e faziam tudo que ela pedisse.
Ao descobrir o que Annie fazia, sua mãe tentou de todas as formas convencê-la do quanto estava se comprometendo com estes espíritos e que um dia eles iriam cobrar da pior forma possível.
Mas ela só pensava no dinheiro que estava acumulando para poder sair daquele lugar.
Certo dia, foi procurada por um homem muito influente da região e ela, sabendo de suas posses, estabeleceu um valor altíssimo para atender seu pedido. Além de negar-se a pagar, denunciou-as como feiticeiras e, com sua influência, ela e sua mãe foram queimadas na fogueira.
Assim que saiu da carne, seu espírito foi aprisionado e arrastado para as profundezas do Umbral.
Sofreu toda sorte de violência, pois seus credores estavam hávidos por vingança.
Foi escravizada e, como tal, era utilizada da mesma forma que se utilizava deles quando encarnada.
Esgotada em sua energia, quando já não servia mais, foi deixada prá tráz, por sua conta e risco, naquele ambiente fétido e cruel.
Por lá vagou não se sabe por quanto tempo, até que um dia foi resgatada junto com outros espíritos que como ela já não tinham serventia para os seres das sombras.


Cidadela de Exu Caveira
Mas este resgate não a levou para a luz. Quando deu por conta, estava em uma cidadela do astral inferior, sendo cuidada e bem alimentada, não sabia porquê. Quando estavam todos recuperados, aqueles espíritos, juntamente com Annie, foram levados ao responsável por aquele lugar, o qual se apresentou como 'Exu Caveira'.


Ele explicou que são servidores da Luz nas trevas e que trabalhadores são sempre bem vindos, por isso estas expedições como a que resgatou-os. O próximo passo, treiná-los para o trabalho. Aqueles que aceitarem, obviamente. Os demais que sigam seu caminho.
Mesmo sem entender direito, Annie aceitou a proposta e hoje, passado tanto tempo, integra a Falange das Pombas Giras, chamadas de Maria Mulambo*. Seu trabalho? O que sempre fez de melhor quando criança, antes de se deixar levar pela ganância: tirar todo o lixo que o ser humano tem dentro de si. Com Exu Caveira, aprendeu a transmutar este lixo em energias boas, devolvendo a quem merece.
E, hoje, quando o ponto dela toca no Terreiro da Casa Pai Joaquim de Cambinda, ela se apresenta com sua gargalhada e toda a sensualidade que transmite, muitas vezes vestida só com uma flor no cabelo, poque é desta forma que atrai as energias que precisam ser trabalhadas.


 Alupo, Dona Maria Mulambo!

 Alupo, minha Senhora!







* Mulambo: significa farrapo. 
O nome Maria Mulambo é porque quando estão trabalhando nas trevas, entre espíritos degradados, revirando seus lixos, se vestem como mendigas, roupas sujas e esfarrapadas, justamente para passarem despercebidas e fazerem seu trabalho sem serem molestadas.

Ponto de Maria Mulambo