AVISO IMPORTANTE:

* Nossa casa fica em Porto Alegre (RS), Av. 21 de Abril, 1385, Vila Elizabeth, Bairro Sarandi. * Dia 4/3/23 não haverá Gira (trabalho externo) * Dia 11/3/23 voltamos ao horário normal das Giras de Pretos Velhos, aos sábados, 15h

quarta-feira, 9 de outubro de 2019

Agradeça...


Por Cândida Camini
Vamos fazer um exercício aqui?
Feche os olhos e crie uma imagem surreal.
É noite, fria, chuvosa, e você está encolhido(a) embaixo de uma ponte, ou marquise, na rua, mal agasalhado(a) e sem ter o que comer.
Nem um cachorro está ao seu lado para aquecerem-se mutuamente.
Conseguiu imaginar? Procure sentir o frio, a fome, o abandono. Não desista, insista neste exercício, é importante.
Após viver intensamente esta sensação, abra os olhos, perceba a sua realidade e agradeça..
Agradeça pela casa humilde e pela pouca comida, embora suficiente.
Agradeça pelo emprego que você não gosta.
Agradeça pela saúde que lhe possibilita procurar um trabalho.
Agradeça pela familia com a qual você tem divergências.
Agradeça por saber ler, escrever.
Agradeça pelos amigos, mesmo que poucos, ou apenas um, que está sempre ao seu lado, quando você precisa.
Agradeça pela sua fé, que lhe permite acreditar que mesmo na adversidade, tudo poderia ser muito pior.
A imagem pode conter: texto e natureza
E que você está no lugar em que deve estar, fazendo o que precisa ser feito, com as pessoas que precisam estar ao seu lado.
E que lhe dá forças, para mudar aquilo que não está exatamente como deve ser.
E sabedoria para aceitar ou mudar.

domingo, 6 de outubro de 2019

Quando o coração fala [14]

Por Rose Sobrinho

A Rose não é só uma médium deste Terreiro. É uma amiga das antigas, do tempo que não éramos exatamente amigas rsrsrs Mas esta é uma outra história, bem mais antiga.
O relato que transcrevo a seguir é de dezembro de 2018, um tanto longo, mas não me atrevo a cortar muita coisa, porque todo ele é muito relevante a qualquer médium, esteja ele no início ou lá adiante nesta caminhada.
Vale à pena a leitura:

Faz alguns dias que sinto a presença de alguém que não consigo identificar como sendo dos guias que trabalham comigo, ou como em situações que ocasionalmente ocorrem de guias de outros médiuns ou mensageiros que simplesmente transmitem alguma orientação, mesmo não sendo trabalhador habitual de incorporação. Uma energia muito intensa e muito salutar. Ao mesmo tempo em que se fez muito potente, de muita força, é também de uma tranquilidade, muita serenidade. Uma paz interior muito grande. Eu sinto que essa energia ao longo dos dias vem interferindo no meu temperamento, no meu comportamento diário. Algumas situações ocorreram e foram administradas de maneira totalmente diferente do que normalmente são. Sem os questionamentos, ponderações e argumentações costumeiras da minha personalidade.
Percebi que estava resolvendo as coisas de maneira diferente 100% do que faço há 52 anos. Isso me fez enxergar que a presença desse SER estava interferindo no meu entendimento e tratativas das questões, que estava me conduzindo para agir diferente. Claro que acolho as orientações, mas por mais estranho que possa parecer, fico ligada analisando e buscando os porquês em cada sensação ou intuição que surja. Não tenho ainda a tranquilidade de conviver com isso e me jogar de cabeça sem estar investigando e às vezes, resistindo a tudo isso.

Diferente de quando estou nas giras. Ali, eu me sinto à vontade de deixar rolar sem a minha interferência constante. Claro, quando tem situações inusitadas, automaticamente meu consciente fica presente (em outro momento, acho que falaremos sobre isso). E após esses dilemas familiares serem tratados, eu fiquei pensando no quanto que fui conduzida durante todo tempo. De 8 ou 80, normalmente eu sou 800.
E na terça-feira, novas preocupações referentes a deixar a casa sozinha e ir trabalhar começaram a tomar conta da minha mente. Um receio gigantesco, e a cabeça funcionando a milhão para achar tentativas de ficar em casa e não sair. Quase um pavor inexplicável. 
No instante que comecei a ficar preocupada, veio a imagem do Guardião na minha mente. Ele é um amigo que convivemos à noite em trabalhos de socorro espiritual durante meu sono e que de uns tempos pra cá tem sido presença nos meus dias também. Assim como sinto a presença dos demais. Benedito, Ogum, Padilha, Caboclo e todos os outros. Às vezes me energizando, outras me aconselhando. Só que demora pra cair a ficha, e quando cai, a gente percebe que tudo isso já está rolando faz certo tempo.
E voltando lá para a minha preocupação com a casa. Ao mesmo tempo em que eu ficava preocupada, logo sintonizei com o Guardião e ele se mostrou tal qual como a primeira vez que o vi, e daí ele me deu a segurança que ele estaria cuidando da minha casa. Que eu deveria ir trabalhar em paz, tranquila, feliz, alegre. Levar a felicidade para as pessoas. Foi mais ou menos isso. Uma lembrança de que é isso que eu tenho que fazer. Estar bem e transmitir esse “meu estar bem” para as pessoas. Levando sempre uma palavra de conforto, um ombro amigo. Ser uma paz, igual a que ele estava me transmitindo. E ai fui trabalhar tranquila. Claro, como humana, lá pelas tantas eu lembrava da casa e ficava acompanhando as imagens pela câmera, mas daí lembrava do conselho dele e focava no trabalho e nas pessoas.
E daí que chega a quarta-feira. Dia da gira. Cheguei cedo. Estava sem entender muito bem o que estava rolando. Meio alienada. Fui me trocar. Fiquei no salão aguardando a hora. E já começou a rolar uma energia semelhante a que identifico como do Caboclo Cobra Coral. Meus olhos pareciam uma bola de fogo. Mas a ardência não era uma coisa ruim. Apesar de remeter a uma ardência semelhante de uma pimenta no olho, não era essa ardência que retrata sofrimento ou dor. É difícil explicar. Enfim, olhei para um irmão de corrente e comentei com ele que estava rolando umas trocas energéticas que eu não estava sabendo explicar. Mas estava convicta que não eram energias ruins ou qualquer dificuldade que teríamos durante a gira. Era uma sucessão de energias diferentes, Compadres, Comadres e Caboclos. E eu sempre com os olhos voltados para acompanhar este médium. Ele caminhando durante a abertura do trabalho como se estivesse fazendo um esforço para trocar os passos. Creio eu que pela intensidade energética que ele estava envolvido, assim como eu.
Nós dois com muita frequência vibramos na mesma sintonia e as energias são trabalhadas de formas bem parecidas. E quando estamos perto fisicamente, essa interação flui de uma maneira acumulativa, se é que dá para definir dessa forma. Mas é mais ou menos assim que eu definiria. Acontece assim também com alguns outros irmãos de corrente (hehehehehe, nas primeiras vezes todos eles evitavam ficar muito próximos de mim). E muitas conversas eu tive com Pai Joaquim para me certificar que isso era perfeitamente normal.
“Normal”? Dentro da CPJC, sim. Em qualquer outro lugar, não. 
Pois bem, fui intuída a ficar mais afastada dele.

Trabalhos abertos, chegam os Caboclos. Começa uma troca frequente de energizações. Iemanjá, Iansã, C. C. Coral, Caboclos, Comadres... No meu corpo físico essas oscilações de energias começaram a atuar de uma maneira que me vi em forma de espiral, principalmente a região da coluna vertebral. Parecia uma mola de caderno sempre em movimento tanto para cima e para baixo como para os lados. Nesse momento, não registrei mais o ambiente do Terreiro, somente esse espiral e dentro dele circulava as energias de todos eles. Estava ficando difícil me manter em pé porque quando parecia que ia firmar a incorporação, ela não acontecia. Na continuação acontecia aproximação de outra entidade, alterando as energias já que cada guia espiritual tem sua manifestação e vibração própria. Foi muito doido, mas infinitamente gostoso viver esse momento. Na hora não consegui relaxar muito e agora sinto que poderia ter sido ainda muito melhor. Quem sabe na próxima vez.
Começaram os atendimentos. Inicialmente, a energia do Exu das Almas, quando interagi com ele, se afastou. Em seguida, senti a energia do Capa Preta.
Quando o consulente parou na minha frente, chega uma Pomba Gira.
Quando começou a conversa já era uma Malandra, logo em seguida o Zé Pilintra.
O tempo inteiro do atendimento essa troca.
Eu sei que isso é comum para vários médiuns. Mas me chamou a atenção nos aconselhamentos, que no geral eram dentro da mesma linha de pensamento mesmo sendo assuntos diferentes nas consultas. O que eu acho que normalmente identificamos como entendimento universalista. Fazia menção ao certo e errado, ao diferente baseado nos nossos questionamentos mais corriqueiros na prática da Umbanda quando inicia formas novas de trabalho. As formas de fazer o bem, de fazer a caridade, de dar amor. Independente de crença. Independente de estar inserido em algum grupo fraterno.
Parecia uma mistura de consulta de Preto Velho, Oriental e Mães das águas. Sabedoria, serenidade e muito amor envolvido.
No final da gira alguns médiuns foram pedir passe, pedir para serem harmonizados, trocar um abraço, conversar ou somente cumprimentar. E o tempo todo houve troca de mensageiros acontecendo e a transmissão de informações para meu mental também. Nesse momento quem mais se manteve à frente foi a energia de Iemanjá, embora outro fizesse o uso da palavra para responder.
Os passes foram de firmeza entre o médium e seus guias.
Intuitivamente, não que houvesse um questionamento ou uma crítica. Acho que essa intuição veio para eu interpretar melhor o que estava acontecendo.
De que precisa disso sim, de tomar um passe, descarregar, harmonizar. Mas que existe a necessidade de se apropriar de todo esse aprendizado. De firmar com seus mentores. De que tem que haver uma definição. Que apesar de fazer parte da casa, de ter uma frequência nos estudos, de integrar a corrente, existe um adiamento para fazer a escolha de como vão usar esse aprendizado.
Muito igual à leitura de um bom livro. Devemos compartilhar o conhecimento.
Ler e guardar na gaveta ou deixar em uma estante é abrir mão de construir consciências.
Que ainda existem receios de fazer a escolha definitiva e que isso é normal.
Um dos atendimentos foi bem específico e fez-me perceber comparando com os demais, que faz sentido...
Iniciamos uma caminhada e já adquirimos condição de fazer por nós com a mesma eficiência. De orientar e harmonizar a si mesmo com a mesma eficiência que estava sendo feito por eles incorporados em mim. E que essa condição provém das opções e escolhas assumidas.
Que quando estamos nos sentindo bem, fizemos um esforço para ficar nesse estado. Buscando uma participação sem muito envolvimento coletivo na tentativa de permanecer se sentindo bem.
Receber o seu protetor para trabalhar as energias que estão desarmonizando os outros pode deixar resquícios e ao terminar talvez não esteja mais se sentindo tão bem e na plenitude de como estava antes. E aí a gente escolhe não incorporar. Escolhe só vir na gira. E essa não é a escolha mais acertada.
De que há uma urgência de que a gente amadureça e use esse amadurecimento.
Pra que a gente não fique brincando. E não se trata de brincar no sentido literal da palavra, de ignorar ou desfazer, mas brincando no sentido de que não faz bem para nenhuma pessoa que chegue ao estágio de médium em uma corrente mediúnica assumir uma posição de limitação por opção de conforto. Porque quando a gente faz pelo outro está recebendo o que precisa para ficar melhor ainda.
E aí eu acho que eles resolveram mostrar isso através de mim, por conta da minha trajetória na umbanda.É respeitada essa escolha, é permitido pelos dirigentes espirituais, mas a mensagem é de que a gente tem que parar para pensar até aonde vai se “arrastar” na indecisão, no comodismo. Porque não é por insegurança, é por entendimento equivocado do compromisso do médium com o grupo que ele faz parte, com as pessoas que vão ali para buscar ajuda.
No Ritual do Amaci de 2016 um ciclo encerrou-se. 2016 foi um marco onde as coisas difíceis de serem administradas com todo esse envolvimento energético, de incorporação, de desobsessão, de regressões às minhas faltas, às minhas necessidades e às minhas superações. A recuperação do meu equilíbrio na balança da existência do meu ser, que é além dessa encarnação foi muito sofrida. Foi uma fase que eu comparo com uma doença muito grave. Teve dias que eu quase fraquejava. Não na fé. Isso sempre eu agradeço, porque a fé sempre se fez presente. Foi por ela ser tão intensa dentro de mim, essa certeza cega que eu tinha de que eu precisava superar esses momentos difíceis e que eu não deveria me acovardar mesmo quando das obsessões (talvez o termo não seja o mais adequado). A busca por socorro individual e coletivo era sempre. Tanta gente usando as minhas energias. Mundo espiritual e encarnado. Na época isso me derrubava, deixava fragilizada, desesperada e até às vezes com sentimento de desamparo.
Mas eu fiz uma escolha. E foi nos momentos de maior provação e de sofrimento que eu tinha essa certeza de que a minha escolha tinha que ser a de seguir em frente. Não deixar que a dor que sentia impossibilitasse de eu me colocar à disposição para tirar a dor de tanta gente.

Nesse período, o Guardião que me acompanha e o Pai Joaquim me levaram ao local onde os espíritos sofredores eram resgatados com o auxilio de alguns médiuns da Casa Pai Joaquim. Sabendo disso, todas as dificuldades vividas com a mediunidade deixavam de parecer gigantescas e o fardo se tornava mais leve.
É contraditório tudo isso. Estar em ataques diários e insistir na caminhada. 

Na verdade, com certeza, meus guias sabiam que o caminho para minha libertação era esse e eles que me despertavam esse sentimento tão convicto, tão firme de doação. Não querer jogar a toalha como seria o mais comum, porque como todo humano é normal que se tenha o entendimento e se queira somente o que dá alegria, riso solto e leveza. Que se viva com o menor número de dificuldades. É compreensível querer evitar situações diferentes. Porém, nem todos os caminhos são iguais.  A grande maioria desconhece seus feitos, suas dívidas, seus tormentos. A grande maioria cria a ilusão de que a contribuição para a caridade e sua própria evolução fica no âmbito de não faltar aos compromissos. Esse entendimento leva a um desperdício de tempo e oportunidade de crescimento. Não há tempo para brincar com a vida. A chance de uma existência terrena acumulada ao exercício mediúnico é de grande responsabilidade, única e exclusiva do médium. Só ele pode conquistar o equilíbrio e conquistar dias melhores. As entidades, o estudo, a prática alinhados à aceitação de que fazendo para outro o que almejamos para nós é início do nosso socorro mais intimo, talvez daquele socorro que nos assombra, mas que ainda está encoberto pelo medo oculto do nosso passado.



Saravá, Umbanda!


Rose Sobrinho
Médium da Casa Pai Joaquim de Cambinda