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sábado, 25 de fevereiro de 2017

Ritual do Amaci 2016 - Úlima Parte



Por Luciana Maria D'Avilla

Este importante Ritual da Umbanda iniciou-se na quinta-feira, com o assentamento dos elementos para o Ritual do Amaci, que aconteceu no sábado, dois dias depois, com a lavagem da cabeça dos médiuns.
O relato do assentamento foi feito pela médium da Casa, Luciana e publicado aqui mesmo no Blog. Clique no link a seguir para ler: 

http://casapaijoaquimdecambinda.blogspot.com.br/2016/12/ritual-do-amaci-2016-1-parte.html

A seguir, transcrevo aqui o relato que a Luciana me enviou sobre o que ela pode perceber durante o Ritual no sábado. Relato este maravilhoso, emocionante. Imagino a emoção dela ao vislumbrar isto tudo. 

Luciana, mais uma vez, gratidão!

Segue o relato:

Antes do início de nosso Ritual, enquanto aguardávamos fora do salão, eu pude ver um grupo de espíritos (em torno de vinte a trinta), vestidos de branco, como nós. Esse grupo era formado por jovens, idosos, homens e mulheres (não havia crianças nesse momento). Suas etnias variavam: branco, negro, índio, oriental. Acredito que fossem nossos guias, pois já vi alguns em dias de trabalho em nosso Terreiro. 
Este grupo estava tão feliz que houve uma troca muito grande de energias, ou seja, cada médium recebia em seu coronário uma energia de luz desses espíritos, formando um lindo arco-íris e tinha  um   cordão energético que nos ligava. Talvez fosse por isso que a alegria contagiava cada médium que chegava.

Enquanto formávamos a corrente, eles formaram outra corrente à nossa volta, em prece. Quando iniciamos o cumprimento do Congá, ao som da música de abertura (Pai Oxalá), a  vibração no chão era tão intensa que  eu sentia ondas de muito calor subindo pelos meus pés, sendo que o piso se transformou num lindo tapete de grama verde. Durante a defumação, nossos amigos espirituais nos energizavam com ondas de amor e carinho, transformando nossas auras,  variando a cor  do vermelho ao azul. 
Em todo o momento a nossa defumação foi também acompanhada por uma mulher negra, vestida de branco, com saia, blusa e turbante. No pescoço ela usava um colar de sementes, nas cores preta e branca. Na defumação ela colocava ervas e flores, principalmente as de camomila.

Quando as portas do salão do Terreiro foram abertas, a formação do triângulo ainda permanecia com a rede protetora colocada pelo nosso Comandante, Ogum Beira-Mar, porém nossos alguidares não eram mais do mesmo tamanho que deixamos na quinta-feira, quando do assentamento. Ficaram bem maiores e  transparentes como cristais. As flores continuavam com o brilho de luz nas pétalas e também nas espadas. Os cristais e pedras que foram colocados em alguns alguidares brilhavam muito. Os cristais giravam como se impulsionados por motores. A cor da água era igual pra todos: azul escuro (sabe quando a gente coloca uma pedra de anil na água?). Os elementos que foram colocados nos alguidares (bonecos, cartas, punhais, etc), estavam com aparência de encerados.

No centro do triângulo haviam várias velas de todas as cores: verde, vermelha, branca, amarela, azul, lilás, preta, marrom, rosa. E uma em especial me chamou a atenção: era na forma de uma grande espiral, na cor branca, e o início da vela era muito fino, que ficava difícil entender como ficava em pé, acredito que só o plano espiritual para mantê-la em equilíbrio do chão ao alto. Todas estavam acesas e formavam um grande mosaico. A flor de lótus ainda permanecia ligada a cada alguidar.

Enquanto aguardávamos, vi uma índia anciã incorporada na Rose, que não se sentia bem e estava sentada logo na entrada do salão. A Rose, desdobrada, foi levada para uma tenda ao lado para ser energizada (havia várias tendas ao redor do Terreiro). Essa índia tinha os cabelos muito grisalhos e na sua cabeça uma grande pena branca com preto. A luz que ela irradiava era intensa, de coloração vermelha, parecendo uma nuvem de fumaça. Seu olhar era muito profundo e com alguns desenhos no rosto em formatos de flechas, lua e estrela.

Nosso tamboreiro também não chegou sozinho. Além dele, havia mais dois tamboreiros negros tocando os tambores. Cada um vestia uma túnica branca e uma calça bege. Os tambores eram vermelhos e a parte de cima era revestida com uma pele de animal. Cada um usava no pescoço uma guia nas cores branca e preta (igual à da mulher negra da defumação). Em suas testas tinha o desenho de um olho enorme.

No momento do ponto do Ogum Beira Mar, uma grande luz se formou na corrente e ele chegou novamente vestido com sua armadura espelhada e a espada da energização dos alguidares. Quando ele se aproximou do triângulo, a cortina se desfez, mas a flor de lótus permaneceu, continuando a doar energia aos alguidares. O Ogum Beira Mar da Elba também estava vestido com armadura e no pescoço um enorme crucifixo de prata. O Ogum Beira Mar do Eduardo trazia um escudo com o desenho do rosto de um leão muito bonito.

A parede do congá possuía uma luz muito intensa e as imagens desapareceram. Formou-se um corredor enorme, com pedras dos dois lados, como montanhas. Vertentes de água escorriam das pedras. A visão era de um grande portal para outra dimensão. Nesse momento, três espíritos pediram permissão ao seu Ogum Beira-Mar e cada um assumiu uma posição no triângulo, ambos com as espadas posicionadas para o alto. Eles permaneceram assim até o momento da lavagem da cabeça dos três últimos médiuns, Ricardo, Elba e Eduardo.

Nesse momento senti e vi vários índios e índias no Terreiro, ambos entoavam cânticos indígenas e energizavam o ambiente com os chocalhos.

A cada ponto entoado a vibração do médium era tão grande que alguns pareciam estar em uma grande bolha de ar e calor, o que percebi  que era comum a todos (por isso que alguns sentiam tanto calor, inclusive eu).  

Sobre cada lavagem de cabeça, falando da parte material, gostaria de enfatizar para o que mais me chamou a atenção no geral:
Guias: todas elas, independente da cor original que foram confeccionadas, transformaram-se em grandes cordões de luz. Isso ocorreu com todas.

Alguidares: quando o médium recolhia seu alguidar do chão, o fio energético não se rompia. Acompanhava o médium até a lavagem de sua cabeça. O protetor se aproximava, rompia a ligação do fio e essa mesma energia era recolocada ora na cabeça do médium, ora no pescoço ou direto no plexo cardíaco. (Muito legal )

Água dos alguidares: permaneceu na cor azul escura, tingindo a cabeça do médium. Quando voltamos a nossa formação da corrente, nossos turbantes eram azuis.

Elementos colocados nos alguidares: eles “derreteram” (foi a descrição mais apropriada que encontrei, rsrsrs) e se misturaram aos líquidos, permanecendo a parte material, o que achei bem estranho de acontecer, mas cabe ao plano espiritual as razões.

Iemanjás/Oxuns/Iaras): vi mulheres negras com os olhos muito escuros, cabelos também escuros e longos. Seus corpos pareciam transparentes, com um brilho muito intenso. De suas mãos saía uma grande luz intensa e seus corações brilhavam como cristais. Quando elas apareceram o chão do Terreiro transformou-se num grande espelho d´agua. E essa mesma água banhava seus protegidos. Elas recolhiam as flores dos alguidares com tanto amor e carinho que essas flores contornavam seus corpos de luz, deixando suas formas ainda mais lindas. As Iemanjás e as Iaras envolviam os médiuns até que eles mergulhassem no espelho d`água e desaparecessem. No chão ainda pude ver o brilho de estrelas de luz, peixes e pedras coloridas. Quando todos foram energizados, esta água foi recolhida pela parede no portal que substituiu as imagens.

Iansãs: mulheres negras muito altas, em torno de dois metros de altura. Trajavam roupagens de guerra, como soldadas romanas e africanas. Todas muito rápidas, com suas armas, chegaram pedindo permissão aos Oguns. Nesse momento eu senti como se o Terreiro estivesse balançando e estivesse solto do chão, tamanha a velocidade que elas chegaram. Um barulho forte de vento e estalos, igual a fios em curto (desculpa a minha descrição, mas era o que parecia, descargas de energia). Elas  colocavam em seus protegidos as armaduras e armas. Em uma médium eu vi claramente ela atuando e seu tamanho ficou dobrado. Uma Iansã africana usava uma espada enorme onde na ponta havia uma corrente com pequenos ganchos iguais a foices. Quando ela foi até ao final de nossa corrente, vi pequenos fios serem cortados e arrancados por essas correntes. Outra riscou no ar um símbolo em formato de um raio e dentro deste raio uma mão formou-se em um triângulo.

Juremas: vi uma índia de cabelo negro que parecia pelo de animal, muito comprido que descia até aos seios. Elas eram de estatura pequena, no corpo muitas tatuagens com elementos da natureza, desenhos de animais e no pescoço um colar de penas coloridas. Além delas, muitos índios apareceram nesse momento e do portal saiu um índio com uma enorme coruja na mão e sentou bem no meio do triângulo. Os olhos da coruja eram enormes, ela girava a cabeça para todos os lados e refletia uma luz que parecia um laser vermelho. Todo o salão ficou com esse colorido. Algumas médiuns receberam de presente arcos e outras foram tatuadas pelas índias. Elas fizeram um grande risco no chão com o desenho de uma flecha no centro, a lua e o sol em cima e abaixo o desenho um rio. Nesse momento fui transportada também para uma linda cachoeira acima do Terreiro. Assisti minha lavagem de cabeça sendo feita pela minha protetora na roupagem de uma índia amazona.

Xangôs: homens negros também de olhar forte e agressivo, como se estivessem caçando algo. Eram muito altos e tinham nas mãos lanças enormes. A respiração muito rápida como um animal. Um deles colocou duas lanças atravessadas na porta da casa dos Dirigentes do Terreiro bem como na de sua filha, talvez seja como uma proteção.

Pretos velhos:  vi a sua maioria com a descrição que já conhecemos, chapéus de palha, bengalas, palheiros e cachimbos. Pai Joaquim chegou cumprimentando Seu Beira Mar e colocou um punhado de ervas no alguidar do Ricardo. 

Outros pretos benziam os seus protegidos com rosários e ervas. Pai José tinha nas mãos um grande vaso de barro, de onde ele enchia a boca com um líquido que espargia em todas as direções. Vi  também ele benzendo e limpando a médium Odete, seu cavalo,  com suas ervas. Uma nuvem de fumaça tomou conta de toda o Terreiro. Um preto que me chamou a atenção: ele era magro, não tinha barba e tinha umas rugas muito marcadas na testa. Nas mãos cicatrizes, parecendo queimaduras. Ele colocou uma flor de jasmim no colo de uma preta que estava sentada ao lado de Pai Joaquim, acho que era a Maria Redonda, mas ambos permaneceram até ao final do ritual.


Oguns:  vi grandes redemoinhos sendo formados na volta de nossa corrente. Um grande número de soldados africanos apresentou-se, alguns posicionando-se lado a lado de alguns médiuns assumindo seus cavalos. Os médiuns foram levados desdobrados para as tendas ao lado do Terreiro em estado de adormecimento, pareciam anestesiados. Nas tendas, foram aplicados nestes médiuns pequenos choques de luz, nas cores que iam do lilás ao azul. As espadas colocadas nos alguidares foram recolhidas por esses soldados e colocadas na mão de cada médium no final da lavagem de cabeça. Esses soldados sumiram quando atravessaram o portal formado no congá.

Foi nesse momento em que ocorria a lavagem da cabeça do Ricardo, Elba e Eduardo, que algumas crianças chegaram correndo no Terreiro. Elas eram tão rápidas que mal dava para perceber a presença, pareciam bolas coloridas soltas no salão. Jogavam folhas e flores por todo o lado, numa grande festa.

Eu ouvia o barulho de uma música, mas não conseguia ver quem tocava.  Ciganos(as), Exus e Pombas Giras fizeram a limpeza de todo o espaço do Terreiro, pátio e fundos. Tudo muito rápido, o que me causou algumas vertigens. Bem no meio do portão de acesso ao Terreiro, foi desenhado  por um exu (que usava uma capa preta), uma imagem de um garfo com cruzes de cabeça para baixo. Este desenho permaneceu lá até quando fui embora.

Após o término da lavagem da cabeça, os três Oguns que estavam dentro do triângulo uniram-se ao centro, abaixo da flor de lótus com suas espadas e foram inundados por uma luz muito forte que saia da flor, que começou a girar em torno deles. Cada um apontou sua espada para cada canto do triângulo formando um grande holograma. Fios de luz se expandiram para todos os lados e iam direto para os nossos plexos frontais que tinham um cristal que girava muito. Vi a presença de uma mulher indiana, seu traje era rosa, ela espalhou várias flores sobre nossas cabeças.

Na despedida dos Oguns da Elba e Eduardo, eles formaram um grande redemoinho de luz e desapareceram no meio do salão. Ouvi o barulho forte de metais que se chocaram.

 Na despedida do Ogum Beira-Mar do Ricardo, que recebeu um forte abraço dele, subiu no seu cavalo (que não era nem branco e nem preto, mas um lindo animal alado de luz), atravessou o portal  e este se desfez  deixando surgir as imagens novamente.
Pai Joaquim e Maria Redonda também se despediram cantando o ponto de Pai Oxalá.

No final eu vi um espírito de um homem bem jovem. Ele segurava um cajado de madeira na mão e na ponta desse cajado tinha uma pedra redonda, parecia a lua. Quando ele girou  esse cajado na corrente, o Terreiro escureceu e vários cristais acenderam nas paredes, como se estivéssemos numa grande gruta. Vi em seu rosto lágrimas de felicidade quando ele ajoelhou-se no meio de nossa corrente e o teto se abriu mostrando o céu todo estrelado. Nesse momento, todos ficaram incandescentes. Esse espírito subiu para as estrelas.  Nesse momento senti  uma vontade de ajoelhar e agradecer a Deus por todas as dádivas alcançadas.

Luciana e eu





Salve todos os Orixás da Umbanda que nos fortalecem e nos guiam por todas as nossas encarnações!

Axé!  

terça-feira, 21 de fevereiro de 2017

Umbandista em Extinção - Contraponto

Por Cândida Camini



Então, tem um texto correndo a internet falando sobre atitudes a serem praticadas dentro do Terreiro, considerando que aquele que cumpre todas elas, é um Umbandista em extinção.
Discordo, né?
Nem a Umbanda e nem os Umbandistas estão em extinção.
Eu diria que estão em evolução, ou seja, embora muitos Terreiros mais antigos e/ou tradicionais ainda priorizem a ritualística, que é muito linda e válida por sinal, outros aos poucos vão dispensando algumas, e não considero isto desrespeito, mas sim um maneira diferente de trabalhar.
Quanto aos médiuns, se cada Terreiro for trabalhar com aquele perfeito, que faz tudo certinho, que não comete falhas, os Terreiros estariam vazios, a começar por seus dirigentes, que também não são perfeitos.
Então, se você pega a caneca do Preto Velho com uma ou duas mãos, se você se afasta do guia ou do congá naturalmente, sem necessariamente andar de costas, enfim....no meu ponto de vista não qualifica a sua relação com a Umbanda.
Outras menções do texto, como agradecer pelo atendimento recebido, orientar sem criticar, trabalhar com amor, aceitar críticas sem que o ego prevaleça, e outras mais citadas, devem fazer  parte do nosso dia a dia, no trabalho, na família, na sociedade  e não somente da vida do Umbandista. Chama-se ‘respeito’.
Resumindo, tudo deve ser espontâneo e vir do coração.
Muitas regras e procedimentos acabam por engessar o trabalho, formatando-o de uma maneira que pode parecer artificial, onde todos fazem tudo de um mesmo jeito, não necessariamente sentindo da mesma forma.
Então, Umbandista, deixe seu espírito e seu amor pela Umbanda falar mais alto.

Axé!