AVISO IMPORTANTE:

* Nossa casa fica em Porto Alegre (RS), Av. 21 de Abril, 1385, Vila Elizabeth, Bairro Sarandi. * Dia 4/3/23 não haverá Gira (trabalho externo) * Dia 11/3/23 voltamos ao horário normal das Giras de Pretos Velhos, aos sábados, 15h

terça-feira, 26 de maio de 2020

Por Cândida Camini

A missão da Umbanda (e dos Umbandistas), assim como a de qualquer outra Religião, assim como a de qualquer ser humano que os tenha, é transmitir valores. Aqueles, por exemplo, hoje tão questionados, infelizmente, de respeitar as diferenças, de honrar pai e mãe, respeitar a Natureza, não fazer ao outro aquilo que não queremos prá nós.
Mais do que um passe, mais do que afastar obsessores, mais do que incorporar os Guias. Isso apenas faz parte do processo.
A tão famosa reforma íntima é o grande objetivo.
Pensemos nisto, antes de lamentarmos que o Terreiro está fechado.
O que estamos fazendo neste período onde tantos precisam de nossas preces, de nossa solidariedade, de nosso bom senso?
Será que estamos tendo o cuidado com o outro?
Será que estamos tentando nos manter harmonizados com os familiares durante o convívio mais próximo durante a quarentena?
Será que estamos cuidando do nosso lixo, evitando descartar indevidamente máscaras, luvas, material possivelmente infectado?
Será que estamos aprendendo a conviver com nossas crianças em tempo integral, como era antigamente?
Será que estamos cuidando de nossos idosos, não só mantendo o isolamento indicado, mas encontrando formas de estarmos próximos, mesmo sem o contato físico.
Ou estamos só preocupados com a nossa sobrevivência (que para muitos nem está tão ruim assim, basta dar uma volta pelas vilas e dirigir o olhar aos menos favorecidos).
É de um passe que sente falta? Existem maneiras alternativas de cuidar da sua energia: pensamentos elevados, orações, um banho de ervas, só para citar algumas.
É a orientação dos Guias que está faltando? Lembre das tantas vezes que esteve no Terreiro com as mesmas queixas e dos conselhos recebidos. Que tal colocá-los em prática?
E, por último, acredite de uma vez por todas, como Umbandista que é, que existe um Ser que tudo sabe e está no controle de tudo.
Confie e faça a sua parte.
Mais do que nunca o Planeta precisa de todos nós!
Axé!

quarta-feira, 13 de maio de 2020

A história do Preto Zé e Maria Redonda

Por Déh Martins

Num tem nada de muito novo, de diferente daqueles que viveram naquela época, naqueles tempos. Uncê batia, o uncê apanhava, e eu apanhava graças a Deus, pois as mãos de quem oferta flô, sempre terá o cheiro do perfume, e se estava naquela situação é pruque um dia o feitô fui eu. Já nasci com as corrente da escravidão, me chamando de José, ou simplesmente de Zé. Desde cedo aprendi o som do estalo do chicote, e que as lágrima podia até secá mas a dô da arma não, e mesmo assim a esperança não pudia fartá.



Nasci nos cafezal, um novo plantio para aqueles tempos, no qual meus pais, junto com nosso povo, um dia foi responsável pelas plantação de cana, mas como meu pai falava, cana ou café, o suó era o mesmo, salgado e tinha dias que era ardido nas vista. Não lembrava como ele tinha ido, só que um dia, não estava mais lá.
Enquanto crescia, com os ombro largo (sim, era assim uma das forma q nos avaliavam), agachado do lado da casa grande, ouvi as súplica de minha mãe, mas por ordem dela mesmo, não podia se atrometê, corria pra onde não me achavam, pra onde eu chorava e me fortalecia, eu corria pras mata. E nessa volta, tava lá aquele ômi de chapéu, me
analisando, dos pés descalço até o fundo do olho. Esse já tá pronto, diz ele, na mão aqueles pano que dava para sentir o cheiro de minha mãe, logo me deu conta que era eu e Deus.
O trabalho nunca terminava, uns iam, outros vinham, alguns de fazendas de cana, outros eram comprado de navios, não chegavam com muita coisa, a não ser a fé, os costume e as dança.
Aprendi a dança da luta, e quase sempre estava no tronco, porque escolhia tomar as chibatada por aqueles que eu sabia que não aguentaria o castigo. O tempo ia passando, nego aceitava a vida, só não entendia. E um dia, como se fosse uma recompensa por tanto sofrimento, vi a formusura em pessoa. Aquele corpo judiado, não apagava aqueles olhos acesos, como duas semente negra, que carregava vida. Atravessou os mares, se agarrou aos poderes das águas, na qual ficou muito de suas lágrimas e mesmo frágil, ajudava a apoiá as demais que amarradas estavam.
Do encantamento, senti um aperto no peito, por lembrar de minha mãe.
A formusura fez com que a moça trabalhasse na casa grande, cuidando dos afazeres e das crianças. Nem por isso menos difícil que a vida de todos os outros. Sempre oiava ela na beira do rio, esfregando as roupa e enxugando as lágrima.
Há coisas que ferem mais uma moça do que as chibatada dos feitô.
Mesmo depois de crescido, continuava indo me refugiá nas mata, tendo mais zelo que antes, mas num abria mão do meu canto. Logo a moça tava lá comigo, alimentando as esperança de tudo aquilo um dia se terminá.
Os tempo ia mudando, mas para o nosso povo era sempre o mesmo tempo. O sinhuzinho já num era o mesmo,
suas semente já tinham germinado, mas a raiz não era diferente não, e os fruto era bem amargos. Assim como
eu cresci já acorrentado, o filho do sinhuzinho cresceu já segurando chicote.
O nego aceitava as injustiça com ele, mas não foi capaz de aceitá com quem ele amava. Com a dança da luta tirei as mãos de cima de quem amava, fitei no fundo dos olhos daquela mardade e não fui capaz de usar da mesma. Me lembrei mais uma vez, que as mão não ia tê cheiro de flô.
Corri com ela pra mata, sabendo que era só tempo dos feitô vim atrás, vingá o sinhuzinho com a mesma mardade nos olhos.
Mandei ela corrê, me ajoelhei e pedi perdão, se me atrometi como minha mãe dizia para não se atrometê, no qual nós tava destinado. Então agradeci, por nem uma mardade que vi ou senti, ser feita pelas minha mão.
Eles chegaram, tentei só adiar com dança da luta, o que sabia que tava por vir. O nego sentiu o sangue quente corrê pelo peito e ouviu a voz se aproximá, aos pranto. Assim como eu, ela voltô pra ajudá quem amava.
Hoje sou o negô Zé, que foi protegido pelas mata. E a moça africana que atravessô os mares, escolheu trabalhá com a mesma alegria, mesmo quando tinha que enxugá as lágrima, como a Maria Redonda.

A vida do nego foi muito mais do que aqui escrevi, mas das dô que senti e lágrima que já derrubei, não presta lembrá, pois antigamente nego já foi apressado, mas hoje nego sabe esperá, pois aceitei, confiei. Coisa que muitos de suncês tem de aprendê. Nego vivia com pouco, o que pra suncês hj é nada, assim suncês pensa. Porque se nego vivia, então era o suficiente. Fio hoje acha que nunca tá bom, e esquece de agradecê o que já tem que é o suficiente.

Nada é em vão. Tudo se transforma, tudo é evolução, da fruta aberta no chão, o passarinho carrega a semente, que há de geminá, criá raiz e nascê fruto doce. Passarinho é o amô, e vai de suncê, fio entregá aquilo que tá estragado, pra se renová.