Por Cândida Camini
(inspirada pela Preta Velha Maria Redonda)
A Gira de Pretos Velhos estava terminando, e a fia sentô na
frente da Nêga e suspirô fundo.
Era um suspiro mais de alívio do que qualquer outra coisa,
talvez porque lá no seu íntimo a fia sabia que ia recebê um colo dessa Nêga.
E a Nêga ficô só esperando a fia falá. E a cada situação
ruim que ela falava da sua vida, a fia completava dizendo o quanto isso estava
servindo para o seu aprendizado, embora dolorido.
E a Nêga ia deixando a fia desabafá, porque era essa
a precisão da fia, e a Nêga sabia disso.
Cada vez que a fia falava do futuro, que tanto a angustiava,
a Nêga interrompia e trazia a fia de volta pro presente, este presente que
embora difícil, doloroso, estava fazendo tanto bem a ela e a sua família
também. Porque o futuro só ao Pai Maior pertence, e os fios precisam aprendê
isso.
E a Nêga então pediu prá fia fazê uma lista de todas as coisa
boa que esta situação está trazendo prá vida da fia, colocar esta lista na
mesa de cabeceira, ler a cada manhã e cada anoitecer, agradecendo ao Pai Oxalá
por todas estas bênçãos. E a cada situação nova, acrescentá na lista, e
agradecê.
E sempre que a fia se abatê, pegá a lista e pensá só nas
coisa boa.
E a Nêga ficou feliz que essa fia tá aprendendo a coloca em prática os ensinamento que os guia passa pros seus fios.
A cruz da fia não vai diminuí de tamanhu, mas vai ficando cada vez mais leve.