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sábado, 27 de julho de 2019

A pajelança no terreiro do Pai Joaquim


Por Sônia Corrêa

A tribo encravada no povoado que hoje é conhecido como Vila de São Jorge, na Chapada dos Veadeiros, interior de Goiás, originalmente, vivia do plantio de milho, mandioca e criação de animais. Tempos depois, a aldeia foi sendo cercada por exploradores de cristal e seu espaço foi reduzindo e houve muita luta pela defesa do território.

Enquanto as meninas da comunidade se embrenhavam no cultivo da subsistência, Tainá Uyara se escondia para espionar o feiticeiro no exercício da cura e no manuseio das ervas. Ela se encantava com o milagre que transformava moribundos em pessoas saudáveis, através dos chás e unguentos usados pelo pajé.

Entretanto, o que arrebatava a menina era a capacidade do curandeiro em se conectar com os deuses da floresta e com os ancestrais, num ritual de fogo, folhas e fumaça cheirosa. Tainá Uyara arregalava os olhos e avigorava sua capacidade auditiva e de memória para ouvir e arquivar cada palavra proferida pelo feiticeiro.

Durante meses a menina comboiava e espreitava o pajé, certa de que não era notada. Até que, numa tarde, enquanto o velho índio se preparava para mais um ritual, no meio da floresta, ele assobiou para que ela saísse de traz da árvore e fosse até ele. Assustada, Tainá Uyara aproximou-se, certa de que receberia alguma represália.

O pajé, no entanto, conduziu o ritual com tranquilidade, mostrando a ela cada ato e explicando o significado de cada elemento. Ao voltar para tribo, o sacerdote foi ao cacique e chamou os pais da menina para assegurar autorização para que Tainá Uyara passasse a acompanhar a lida do feiticeiro e aprender o ofício.

Embora o cacique tenha ponderado o fato de tratar-se de uma menina, o sacerdote convenceu a todos que não havia impedimento para o manuseio das plantas medicinais e, nem mesmo, para que a menina se tornasse uma sacerdotisa e se conectasse com os espíritos.

Desde então, Tainá Uyara passou a aprender todos os rituais, a conhecer os chás e ervas para cura de doenças, a receber as mensagens dos deuses e ancestrais da floresta e a dominar o fogo das pajelanças. Passaram cerca de 20 anos até o dia que o feiticeiro morreu.

Tainá Uyara coordenou os rituais de despedida do curandeiro e, pela primeira vez, assumiu sozinha a taba de cura da aldeia.

As crenças e rituais religiosos daquela tribo eram baseadas nas forças da natureza e nos espíritos dos antepassados e era para eles que se faziam rituais, cerimônias e festas. Tainá Uyara era o responsável por transmitir estes conhecimentos aos povos da tribo. Ela assumiu a figura de conselheira, curandeira, feiticeira e mediadora espiritual da comunidade.

Tainá Uyara se destacava pela evidência de seus poderes sobrenaturais e a capacidade de expulsar espíritos malignos e doenças das tribos. Orientada pela ancestralidade, ela também desenvolveu técnicas de transmissão de cura pela potência das mãos, com massagens, ou apenas emanando energia. Outra prática desenvolvida por ela foi a utilização de ervas, raízes e sementes em banhos medicinais.

A pajé Tainá Uyara também revolucionou o conhecimento da aldeia. Pela sua experiência de vida, ela compreendia a importância de formar novos curandeiros. Mesmo respeitando a hierarquia e defendendo que a figura do pajé era determinante para o prosseguimento da cultura da sua tribo, ela achava que os conhecimentos básicos de cura deveriam ser acessíveis a todos.

Assim, Tainá Uyara ensinava as crianças e as mulheres da tribo os primeiros socorros e as ervas para utilização de enfermidades menos complexas. Ela viveu até os 97 anos, sem jamais deixar de exercer o ofício. Morreu dormindo.

Numa noite, Tainá Uyara, com aparência entre 50 e 60 anos, veio me visitar em sonho. Ela foi logo anunciando que iria trabalhar comigo, no terreiro do Pai Joaquim e destacou, com muita ênfase que era brasileira e que, portanto, não iria trabalhar com rituais xamãs, mas com pajelança.

Eu confesso que não entendi nada pois, embora já tivesse assistido um ritual de pajelança na Bahia, em 2015, num encontro de povos originários, não sabia a diferença entre xamanismo e pajelança. Para falar a verdade, nem sabia que havia alguma diferença, ou o que se fazia em cada um dos rituais.

Tainá Uyara realizou um ritual, diante de mim, durante o sonho. Nele, ela segurava um maço bem grande de folhas verdes, enquanto uma fogueira queimava ao seu lado. Ela batia as folhas em seu próprio corpo e falava mantras indecifráveis. Depois, jogou o maço de folhas sobre o fogo e isso gerou uma farta fumaça branca. Então, ela se direcionou para o meio da fumaça e se defumou.

Depois disso, ela me explicou que trabalhará com ervas, fogo e fumaça como elementos de limpeza espiritual e cura.

Conversei com o Pai Joaquim sobre o assunto e também com algumas médiuns sobre o trabalho. O Pai Joaquim me explicou que uma das diferenças entre os rituais dos xamãs e a pajelança, está ligada aos elementos de trabalho. Os xamãs têm como referência animais. Os pajés têm as ervas.

Intui que a índia que tem se manifestado com a médium Brenda é da mesma tribo que a da Tainá Uyara. Isso, para mim, ficou mais evidente, quando num encerramento de trabalhos, o Pai Joaquim falou sobre a manifestação de novos amigos espirituais, especialmente, povos da mata.

Tainá Uyara ainda não se manifestou no terreiro, mas voltou a falar comigo em sonho e dessa vez, pude ver que ela usava uma saia de palha, um colar de semente avermelhada, que pesquisei e descobri ser de pau brasil. Hoje, finalmente, ela me intuiu a escrever esse relato.

Sinto-me ansiosa pelo momento em que ela vai se apresentar para o trabalho, embora com um mega frio na barriga. Mas, aprendi que o momento certo é definido pelo senhor do tempo. Eu aguardo.





Sônia Corrêa
Médium da Casa Pai Joaquim de Cambinda.

terça-feira, 23 de julho de 2019

Quando o coração fala [13]

A Vânia faz parte do Grupo de Estudos do nosso Terreiro e, mal começou a frequentar aqui, seu coração falou, ou melhor, gritou rsrsrs Obrigada, Vânia, pelo carinho e por compartilhar conosco.
Segue o relato:

Gratidão

Quando comecei a mergulhar em mim descobri que podia dar forma aos meus sonhos ou aos meus pesadelos.
Quando tive consciência dos meus sentimentos comecei a respeitá-los e não mais a negá-los como vinha fazendo .
Quando comecei a falar sobre os meus medos encontrei pessoas que queriam me ajudar.
Quando comecei a reconhecer os meus pensamentos me dei conta de que muitos não representavam a minha essência - eles eram apenas um reflexo da vazia realidade na qual eu estava inserida.
Decidi mudar.

Parei de gastar dinheiro e energia com passatempos que me proporcionavam alívio para esquecer das minhas dores e decidi encará-las.
Aceitei que ainda não havia encontrado a minha real vocação - era a maior dor que eu sentia.
Desapeguei do que achava que era meu.
Reconheci minhas fraquezas e quando elas começaram a doer, decidi mudar

Adaptei minhas habilidades e decidi colaborar com algo que comovia meu coração.
Percebi que o bem está por toda a parte.
E também entendi que o mundo está cheio de vaidade.
Conheci pessoas que vivem por aparência - e em algumas me reconheci .
Decidi mudar .
 
Assumi minha própria existência como projeto.
Desenvolvi formas de prestar atenção no que mais me agradava e me inspirar no que amor transpirava.
Respeitei meus limites
Percebi que sou parte de algo maior e estabeleci a minha conexão com a natureza.  

Segui em frente.
Vânia Alves

Nesta estrada, encontrei um pouco de paz e percebi de onde ela havia brotado, então passei a persegui-la com mais intensidade.
Reconheci em mim mais amor e bondade.
Compreendi que o meu dom era saudar o lado bom que habitava em cada ser, pois era isso que eu tinha para oferecer.
Assumi meu lema, sem me queixar daquilo que havia deixado.
E então este seria o meu legado.