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domingo, 18 de novembro de 2018

Rúbia, la vieja gitana

Por Cândida Camini

Era Gira de Ciganos no Terreiro.
Mal a música inicia, percebo uma energia me envolver e que aos poucos vai tomando conta de meu campo energético.
Lhe oferecem uma bengala, que aceita e se dirige muito devagar ao Congá, reverenciando principalmente Santa Sarah e o Povo Cigano que ali está representado.
Poucas palavras, avisa que deve voltar no final da Gira, se o 'aparelho' (no caso, eu), permitir a manifestação, que por ser a primeira vez está muito difícil.
No final da Gira, como já era previsto, devido ao meu trabalho como Cambona Chefe, não foi possível o seu retorno.
Porém, na Gira seguinte, dois dias depois, enquanto dançava, Carmem me mostra algumas imagens de una vieja gitana.
Revela-me seu nome, Rúbia e nada mais.
Dois dias depois, novamente, em uma prática de meditação, me foi passado o que relato a seguir:

Acampamento cigano.
Uma tenda não muito grande, colorida, como não podia deixar de ser.
Do lado de fora, uma velha cigana sentada em uma cadeira de balanço, feita de galhos e troncos finos de árvore, revestida com almofadas e lenços coloridos.
Rúbia é o nome dela.
Seu espírito é milenar, sua aparência é de mais de 100 anos de idade.
Emana dela uma energia forte, uma ancestralidade sem limites.
No chão, aos seus pés, três cestos. 
No primeiro, fitas coloridas.
No segundo, vários tipos de ervas.
No último, galhos de árvore, finos e pequenos.
Ela escolhe algumas fitas de cores diversas, uma ou outra erva e trama com um pequeno galho.
Seu olhar é ao mesmo tempo doce e determinado.
Seus gestos, apesar de suaves, são precisos.
Aquele tramar de elementos demora um certo tempo.


Por vezes, olha para as chamas da fogueira, desmancha e inicia uma nova trama.
Por outras, observa a água que descansa em um tacho de cobre ao seu lado e só termina o seu 'tramado', quando percebe que está em harmonia com o que vê no fogo e na água.
Fecha os olhos, agradece à Santa Sarah, deposita a trama no chão e reinicia o processo.
Desta vez são outras cores de fitas, outras ervas, outros galhos, variando conforme o que as chamas da fogueira e a água no tacho de cobre lhe dizem.

Pergunto o que ela está fazendo, qual o significado deste trabalho.
É Carmem quem me responde, me mostrando e explicando qual o papel da vieja gitana neste Clã.

Devido a sua ancestralidade, sabedoria e discernimento, ela é a responsável por programar  a próxima reencarnação de um Cigano ou Cigana do Clã, que necessite voltar ao plano terreno.

Quando chega o momento do retorno à face da Terra, ela convoca aqueles que precisam reencarnar e os orienta sobre os primeiros passos. Precisam escolher a lenha e coletar a água que serão utilizadas durante o ritual. O tipo de lenha e água auxiliará a definir seus destinos. Madeiras mais rijas e duradouras, mais tenras e frágeis. Água do rio na sua nascente, ou quando deságua no mar, água da cachoeira, das corredeiras. Detalhes que farão toda a diferença.

É numa noite de lua crescente, que a fogueira de cada um é montada e acesa e a água escolhida, derramada no tacho de cobre. 

Junto com Rúbia, observam nas chamas da fogueira, os karmas que precisam ser queimados e na água do rio, que está na bacia de cobre, o dharma, ou seja, aqueles bens morais e espirituais que amealhou em vidas passadas e que o auxiliarão a cumprir sua missão. 


Me é dito também que um Cigano nunca reencarna só. O plano reencarnatório é elaborado para um grupo familiar. Por isso Rúbia estava tecendo mais de uma trama. Na verdade, as cores das fitas e as ervas, são as energias que irão acompanhar e auxiliar o viver de cada um. O galho representa o corpo físico que irão habitar durante esta encarnação.

Terminado o ritual, os(as) ciganos(as) transmutam sua roupagem para aquela que irão utilizar na próxima vida e voltam à convivência do bando, levando consigo, cada um, a sua trama energética, de fitas, ervas e galhos, até que chegue o momento de voltar ao plano terreno, onde viverão uma vida cigana, mais uma vez. E é neste momento que o chefe do Clã, o Cigano Igor, assume a responsabilidade por eles. 

Mas esta é uma outra história, que ele mesmo irá nos contar quando de seu retorno, já que neste momento encontra-se nesta missão.

La Vieja Gitana Rúbia exerce esta função neste Clã a muito tempo. E nela permanecerá até o momento em que sua ascenção a outros planos se fizer necessária. Nesta hora, sua substituição será determinada pelo mais alto e sobre esta escolha, não há informações.

Gratidão pelo ensinamento!

Optchá, Rúbia!

Optchá todo Povo Cigano !