Por Juliana Bálico
Sempre fui de ler os relatos publicados pelos irmãos de
corrente no Blog do Terreiro, e até então, uma única vez tive o privilégio de
escrever sobre a Preta Velha que me acompanha, a Maria Redonda. E na última quinta-feira, após o assentamento do Amaci, venho falar sobre uma outra Negra, mais especial ainda.
Há um bom tempo, algumas pessoas me perguntam o motivo de
não trabalhar com os meus Protetores durante as Giras, o motivo de não os
receber nessas oportunidades para me descarregarem, para me harmonizarem, para
libertarem as amarras que ainda sinto em meu corpo com relação aos trabalhos e
minha única resposta é que não estou pronta ainda, a insegurança persiste, mas
quem sabe aos poucos, né?
Nos últimos meses, semanas e dias venho sentindo uma energia
que se aproxima, sussurra algo em meu ouvido e se afasta, ou apenas surge
aquele pensamento estranho até mesmo “sem sentido”. Eis que chegou o momento de
sentar, colocar uma música tranquila e a necessidade era de que tivesse uma
cachoeira no fundo e apenas me colocar à disposição e escrever...
Em meados de 1853, uma negra escrava, parteira, de 55 anos,
foi chamada às pressas para a casa grande, para ajudar a Senhora a dar à luz ao
bebê que estava em seu ventre. Como todo trabalho de parto, este não foi fácil,
algumas complicações ocorreram, mas a negra sempre tinha uma palavra para
confortar e uma reza para acalmar, enquanto fazia seu trabalho. Horas depois do
bebê nascer, a negra é chamada novamente para que, dessa vez, ajude a Senhora a
cuidar de sua filha. Ela aceita, mas informa que não seria por muito tempo,
pois outras mães precisariam de sua ajuda para darem à luz e ajudar nos
primeiros dias de vida da criança.
A negra escrava sempre sonhara em ser mãe, mas o mais próximo que chegava deste sonho era nos
partos que realizava e nos dias em que ajudava as mães. Tendo em vista as
inúmeras vezes que acabou apanhando por tentar salvar seus “filhos de coração”,
essa negra não poderia ter filhos. Esse sentimento materno sempre foi
muito presente em sua vida, todas as crianças a rodeavam e ela sempre estava
disposta a dar atenção merecida a cada uma, como se fossem seus próprios
filhos.
Hoje teremos mais um encontro, mais um firmamento e mais
um ano dividindo este sentimento enorme de amor e gratidão pelo próximo.
Tenham certeza que as lágrimas que escorrem neste rosto, são
de felicidade, são dos reencontros, são do mais puro amor!
E aos que ela protege
e guarda, tenham certeza que fazem parte deste grande coração de mãe, que
pertence à negra Zuma.
Juliana Bálico Filha de Oxum e médium da CPJC |
Ora iê iê ô, Oxum!
Salve, negra Zuma!