" Era final de tarde de um dia nublado, e Teresa estava sentada
na sala escura, fria e suja do que deveria ser um consultório médico.
A sua frente estava sentada uma mulher negra, com
seus grandes olhos fixos nela.
Já estava começando a se sentir incomodada, quando a
mulher lhe dirigiu a palavra:
- Você veio aqui para tirar esta criança não veio? –
perguntou sem rodeios
- Sim – Teresa respondeu num sussurro, como se temesse ouvir
a própria resposta.
- Não faça isto, eu lhe peço. Acredite em mim. Seja qual for o
motivo que te trouxe aqui, não faça isto. Eu prometo que vou cuidar dela pra
você. E quando ela nascer, só te peço que coloque nela o meu nome, Serafina.
Teresa suspirou fundo, fechou os olhos e, como em um filme,
reviu as cenas de sua vida.
O companheiro de família abastada, que nunca quis assumi-la
e aos seus outros dois filhos.
A própria família que a renegou por insistir nesta relação.
E agora ela estava grávida novamente e decidira que não iria
trazer ao mundo mais uma criança para passar fome, como seus irmãos.
Ao abrir os olhos, percebeu que a mulher desaparecera.
Mas de alguma forma, algo tinha mudado dentro dela.
Sem saber bem por que, saiu às pressas dali e decidiu que
iria ter o bebê.
E assim foi.
Logo Teresa tinha mais uma criança para criar. Era uma menina e ela não titubeou em dar-lhe o nome de Serafina.
Logo Teresa tinha mais uma criança para criar. Era uma menina e ela não titubeou em dar-lhe o nome de Serafina.
Mas a vida estava cada vez mais difícil. Ela não tinha como
alimentar tantos filhos.
E já estava grávida de outro, quando decidiu entregar Serafina para alguém que pudesse lhe dar o que ela não tinha condições.
E já estava grávida de outro, quando decidiu entregar Serafina para alguém que pudesse lhe dar o que ela não tinha condições.
Andando pela rua a esmo, já cansada e sem esperanças, parou
à frente de uma casa simples, porém bem cuidada. E ali ficou por um tempo que
não saberia precisar.
Até que a porta abriu-se e uma mulher perguntou o que ela
desejava.
Teresa contou sua história e a mulher aceitou ficar com
Serafina.
Mas Teresa impôs uma condição: que ela mantivesse o nome da
criança.
E Serafina passou então a chamar-se Sara Isabel Serafina,
porque a nova mãe fez questão de colocar na menina o nome de suas avós, Sara e
Isabel.
Os anos se passaram céleres, Sara casou, teve filhos e
um dia ficou sabendo que aquela Tia Teresa, que a visitava sempre, era na verdade a sua mãe biológica e os que considerava como primos, seus irmãos.
Certo dia, estava angustiada com um problema familiar e
recebeu o convite de um amigo de visitar um Terreiro de Umbanda. E lá se foi
ela, sem saber exatamente o que iria encontrar e como deveria se comportar.
Lá chegando, sentou-se à frente de um Preto Velho de nome
Joaquim, pelo qual se tomou de amores imediatamente.
A energia do local envolveu-a de forma indescritível e ela
sucumbiu ao convite de voltar outras vezes e, quem sabe, participar do grupo de
estudos da casa.
Aceitou o convite, mais por educação do que por saber
exatamente o que isto significava.
E no dia da reunião de estudos, lá estava Sara Serafina,
trêmula, ansiosa, sem saber ao certo o que fazer, o que esperar.
A primeira parte da reunião era teórica. Pai Joaquim estava
falando sobre o trabalho dos Pretos Velhos na Umbanda.
Sara ouvia tudo maravilhada. Ao mesmo tempo em que era
tudo muito novo para ela, parecia que era íntima dos Pretos Velhos.
E na segunda parte da reunião, quando os pontos começaram a
serem ouvidos no Terreiro, chamando os Pretos Velhos, Sara se deixou
envolver por aquela magia e logo percebeu que tinha alguém com ela.
Dividida entre o encanto e o medo, perguntou mentalmente
quem era.
E a resposta não tardou:
- Sou a Preta Serafina, fia, lembra? Conforme fiz o prometido a sua mãe, esta nega cuidou e vai
continuar cuidando d’ocê e, se ocê permiti, vamu trabaiá juntas nesta Seara de
Luz.
E imediatamente ela lembrou da história que sua mãe adotiva
havia lhe contado quando ela perguntou porquê ela era tão parecida com aqueles que considerava como seus primos.
Lágrimas de alegria e gratidão lavaram o seu rosto e sua
alma, por conta deste reencontro.
Salve os Pretos Velhos!
Agô Nega Serafina!
Agô Nega Serafina!
Salve a Umbanda Sagrada, que proporciona estes momentos lindos
aos seus filhos de fé! "