Por Luciana Maria D'Avilla
Este importante Ritual da Umbanda iniciou-se na quinta-feira, com o assentamento dos elementos para o Ritual do Amaci, que aconteceu no sábado, dois dias depois, com a lavagem da cabeça dos médiuns.
O relato do assentamento foi feito pela médium da Casa, Luciana e publicado aqui mesmo no Blog. Clique no link a seguir para ler:
http://casapaijoaquimdecambinda.blogspot.com.br/2016/12/ritual-do-amaci-2016-1-parte.html
A seguir, transcrevo aqui o relato que a Luciana me enviou sobre o que ela pode perceber durante o Ritual no sábado. Relato este maravilhoso, emocionante. Imagino a emoção dela ao vislumbrar isto tudo.
Luciana, mais uma vez, gratidão!
Segue o relato:
Antes do início de nosso Ritual, enquanto
aguardávamos fora do salão, eu pude ver um grupo de espíritos (em torno de
vinte a trinta), vestidos de branco, como nós. Esse grupo era formado por
jovens, idosos, homens e mulheres (não havia crianças nesse momento). Suas
etnias variavam: branco, negro, índio, oriental. Acredito que fossem nossos guias,
pois já vi alguns em dias de trabalho em nosso Terreiro.
Este grupo estava tão
feliz que houve uma troca muito grande de energias, ou seja, cada médium
recebia em seu coronário uma energia de luz desses espíritos, formando um lindo
arco-íris e tinha um cordão energético que nos ligava. Talvez
fosse por isso que a alegria contagiava cada médium que chegava.
Enquanto formávamos a corrente,
eles formaram outra corrente à nossa volta, em prece. Quando iniciamos o
cumprimento do Congá, ao som da música de abertura (Pai Oxalá), a vibração no chão era tão intensa que eu sentia ondas de muito calor subindo pelos
meus pés, sendo que o piso se transformou num lindo tapete de grama verde. Durante
a defumação, nossos amigos espirituais nos energizavam com ondas de amor e
carinho, transformando nossas auras,
variando a cor do vermelho ao
azul.
Em todo o momento a nossa defumação foi também acompanhada por uma mulher
negra, vestida de branco, com saia, blusa e turbante. No pescoço ela usava um
colar de sementes, nas cores preta e branca. Na defumação ela colocava ervas e
flores, principalmente as de camomila.
Quando as portas do salão do Terreiro
foram abertas, a formação do triângulo ainda permanecia com a rede protetora
colocada pelo nosso Comandante, Ogum Beira-Mar, porém nossos alguidares não
eram mais do mesmo tamanho que deixamos na quinta-feira, quando do assentamento.
Ficaram bem maiores e transparentes como
cristais. As flores continuavam com o brilho de luz nas pétalas e também nas
espadas. Os cristais e pedras que foram colocados em alguns alguidares brilhavam
muito. Os cristais giravam como se impulsionados por motores. A cor da água era
igual pra todos: azul escuro (sabe quando a gente coloca uma pedra de anil na
água?). Os elementos que foram colocados nos alguidares (bonecos, cartas,
punhais, etc), estavam com aparência de encerados.
No centro do triângulo haviam várias
velas de todas as cores: verde, vermelha, branca, amarela, azul, lilás, preta,
marrom, rosa. E uma em especial me chamou a atenção: era na forma de uma grande
espiral, na cor branca, e o início da vela era muito fino, que ficava difícil
entender como ficava em pé, acredito que só o plano espiritual para mantê-la em
equilíbrio do chão ao alto. Todas estavam acesas e formavam um grande mosaico.
A flor de lótus ainda permanecia ligada a cada alguidar.
Enquanto aguardávamos, vi uma
índia anciã incorporada na Rose, que não se sentia bem e estava sentada logo na
entrada do salão. A Rose, desdobrada, foi levada para uma tenda ao lado para
ser energizada (havia várias tendas ao redor do Terreiro). Essa índia tinha os
cabelos muito grisalhos e na sua cabeça uma grande pena branca com preto. A luz
que ela irradiava era intensa, de coloração vermelha, parecendo uma nuvem de
fumaça. Seu olhar era muito profundo e com alguns desenhos no rosto em formatos
de flechas, lua e estrela.
Nosso tamboreiro também não chegou sozinho.
Além dele, havia mais dois tamboreiros negros tocando os tambores. Cada um
vestia uma túnica branca e uma calça bege. Os tambores eram vermelhos e a parte
de cima era revestida com uma pele de animal. Cada um usava no pescoço uma guia
nas cores branca e preta (igual à da mulher negra da defumação). Em suas testas tinha
o desenho de um olho enorme.
No momento do ponto do Ogum Beira
Mar, uma grande luz se formou na corrente e ele chegou novamente vestido com sua
armadura espelhada e a espada da energização dos alguidares. Quando ele se
aproximou do triângulo, a cortina se desfez, mas a flor de lótus permaneceu, continuando
a doar energia aos alguidares. O Ogum Beira Mar da Elba também estava vestido com
armadura e no pescoço um enorme crucifixo de prata. O Ogum Beira Mar do Eduardo
trazia um escudo com o desenho do rosto de um leão muito bonito.
A parede do congá possuía uma luz muito
intensa e as imagens desapareceram. Formou-se um corredor enorme, com pedras
dos dois lados, como montanhas. Vertentes de água escorriam das pedras. A visão
era de um grande portal para outra dimensão. Nesse momento, três espíritos
pediram permissão ao seu Ogum Beira-Mar e cada um assumiu uma posição no
triângulo, ambos com as espadas posicionadas para o alto. Eles permaneceram
assim até o momento da lavagem da cabeça dos três últimos médiuns, Ricardo, Elba e Eduardo.
Nesse momento senti e vi vários
índios e índias no Terreiro, ambos entoavam cânticos indígenas e energizavam o
ambiente com os chocalhos.
A cada ponto entoado a vibração do
médium era tão grande que alguns pareciam estar em uma grande bolha de ar e
calor, o que percebi que era comum a
todos (por isso que alguns sentiam tanto calor, inclusive eu).
Sobre cada lavagem de cabeça,
falando da parte material, gostaria de enfatizar para o que mais me chamou a
atenção no geral:
Guias: todas elas, independente da cor original que foram
confeccionadas, transformaram-se em grandes cordões de luz. Isso ocorreu com
todas.
Alguidares: quando o médium recolhia seu alguidar do chão, o fio
energético não se rompia. Acompanhava o médium até a lavagem de sua cabeça. O
protetor se aproximava, rompia a ligação do fio e essa mesma energia era recolocada
ora na cabeça do médium, ora no pescoço ou direto no plexo cardíaco. (Muito
legal )
Água dos alguidares: permaneceu na cor azul escura, tingindo a cabeça
do médium. Quando voltamos a nossa formação da corrente, nossos turbantes eram
azuis.
Elementos colocados nos alguidares: eles “derreteram” (foi a
descrição mais apropriada que encontrei, rsrsrs) e se misturaram aos líquidos,
permanecendo a parte material, o que achei bem estranho de acontecer, mas cabe
ao plano espiritual as razões.
Iemanjás/Oxuns/Iaras): vi mulheres negras com os olhos muito escuros,
cabelos também escuros e longos. Seus corpos pareciam transparentes, com um
brilho muito intenso. De suas mãos saía uma grande luz intensa e seus corações brilhavam
como cristais. Quando elas apareceram o chão do Terreiro transformou-se num
grande espelho d´agua. E essa mesma água banhava seus protegidos. Elas
recolhiam as flores dos alguidares com tanto amor e carinho que essas flores
contornavam seus corpos de luz, deixando suas formas ainda mais lindas. As
Iemanjás e as Iaras envolviam os médiuns até que eles mergulhassem no espelho
d`água e desaparecessem. No chão ainda pude ver o brilho de estrelas de luz,
peixes e pedras coloridas. Quando todos foram energizados, esta água foi
recolhida pela parede no portal que substituiu as imagens.
Iansãs:
mulheres negras muito altas, em torno de dois metros de altura. Trajavam
roupagens de guerra, como soldadas romanas e africanas. Todas muito rápidas, com
suas armas, chegaram pedindo permissão aos Oguns. Nesse momento eu senti como se o Terreiro estivesse balançando e estivesse solto do chão, tamanha a velocidade
que elas chegaram. Um barulho forte de vento e estalos, igual a fios em curto
(desculpa a minha descrição, mas era o que parecia, descargas de energia). Elas
colocavam em seus protegidos as
armaduras e armas. Em uma médium eu vi claramente ela atuando e seu tamanho
ficou dobrado. Uma Iansã africana usava uma espada enorme onde na ponta havia
uma corrente com pequenos ganchos iguais a foices. Quando ela foi até ao final
de nossa corrente, vi pequenos fios serem cortados e arrancados por essas
correntes. Outra riscou no ar um símbolo em formato de um raio e dentro deste
raio uma mão formou-se em um triângulo.
Juremas: vi uma índia de cabelo negro que parecia pelo de animal,
muito comprido que descia até aos seios. Elas eram de estatura pequena, no
corpo muitas tatuagens com elementos da natureza, desenhos de animais e no
pescoço um colar de penas coloridas. Além delas, muitos índios apareceram nesse
momento e do portal saiu um índio com uma enorme coruja na mão e sentou bem no
meio do triângulo. Os olhos da coruja eram enormes, ela girava a cabeça para
todos os lados e refletia uma luz que parecia um laser vermelho. Todo o salão
ficou com esse colorido. Algumas médiuns receberam de presente arcos e outras
foram tatuadas pelas índias. Elas fizeram um grande risco no chão com o desenho
de uma flecha no centro, a lua e o sol em cima e abaixo o desenho um rio. Nesse
momento fui transportada também para uma linda cachoeira acima do Terreiro.
Assisti minha lavagem de cabeça sendo feita pela minha protetora na roupagem de
uma índia amazona.
Xangôs: homens negros também de olhar forte e agressivo, como se
estivessem caçando algo. Eram muito altos e tinham nas mãos lanças enormes. A
respiração muito rápida como um animal. Um deles colocou duas lanças
atravessadas na porta da casa dos Dirigentes do Terreiro bem como na de sua
filha, talvez seja como uma proteção.
Pretos velhos: vi a sua
maioria com a descrição que já conhecemos, chapéus de palha, bengalas,
palheiros e cachimbos. Pai Joaquim chegou cumprimentando Seu Beira Mar e
colocou um punhado de ervas no alguidar do Ricardo.
Outros pretos benziam os
seus protegidos com rosários e ervas. Pai José tinha nas mãos um grande vaso de
barro, de onde ele enchia a boca com um líquido que espargia em todas as
direções. Vi também ele benzendo e
limpando a médium Odete, seu cavalo, com suas ervas. Uma nuvem de fumaça tomou conta de toda o Terreiro. Um preto que me chamou a atenção: ele era magro, não tinha barba e
tinha umas rugas muito marcadas na testa. Nas mãos cicatrizes, parecendo
queimaduras. Ele colocou uma flor de jasmim no colo de uma preta que estava
sentada ao lado de Pai Joaquim, acho que era a Maria Redonda, mas ambos
permaneceram até ao final do ritual.
Oguns: vi grandes
redemoinhos sendo formados na volta de nossa corrente. Um grande número de
soldados africanos apresentou-se, alguns posicionando-se lado a lado de alguns
médiuns assumindo seus cavalos. Os médiuns foram levados desdobrados para as
tendas ao lado do Terreiro em estado de adormecimento, pareciam anestesiados. Nas
tendas, foram aplicados nestes médiuns pequenos choques de luz, nas cores que
iam do lilás ao azul. As espadas colocadas nos alguidares foram recolhidas por
esses soldados e colocadas na mão de cada médium no final da lavagem de cabeça.
Esses soldados sumiram quando atravessaram o portal formado no congá.
Foi nesse momento em que ocorria
a lavagem da cabeça do Ricardo, Elba e Eduardo, que algumas crianças chegaram
correndo no Terreiro. Elas eram tão rápidas que mal dava para perceber a
presença, pareciam bolas coloridas soltas no salão. Jogavam folhas e flores por
todo o lado, numa grande festa.
Eu ouvia o barulho de uma música,
mas não conseguia ver quem tocava. Ciganos(as),
Exus e Pombas Giras fizeram a limpeza de todo o espaço do Terreiro, pátio e
fundos. Tudo muito rápido, o que me causou algumas vertigens. Bem no meio do
portão de acesso ao Terreiro, foi desenhado
por um exu (que usava uma capa preta), uma imagem de um garfo com cruzes
de cabeça para baixo. Este desenho permaneceu lá até quando fui embora.
Após o término da lavagem da
cabeça, os três Oguns que estavam dentro do triângulo uniram-se ao centro,
abaixo da flor de lótus com suas espadas e foram inundados por uma luz muito
forte que saia da flor, que começou a girar em torno deles. Cada um apontou sua
espada para cada canto do triângulo formando um grande holograma. Fios de luz
se expandiram para todos os lados e iam direto para os nossos plexos frontais
que tinham um cristal que girava muito. Vi a presença de uma mulher indiana,
seu traje era rosa, ela espalhou várias flores sobre nossas cabeças.
Na despedida dos Oguns da Elba e Eduardo,
eles formaram um grande redemoinho de luz e desapareceram no meio do salão.
Ouvi o barulho forte de metais que se chocaram.
Na despedida do Ogum Beira-Mar do
Ricardo, que recebeu um forte abraço dele, subiu no seu cavalo (que não era nem
branco e nem preto, mas um lindo animal alado de luz), atravessou o portal e este se desfez deixando surgir as imagens novamente.
Pai Joaquim e Maria Redonda
também se despediram cantando o ponto de Pai Oxalá.
No final eu vi um espírito de um
homem bem jovem. Ele segurava um cajado de madeira na mão e na ponta desse
cajado tinha uma pedra redonda, parecia a lua. Quando ele girou esse cajado na corrente, o Terreiro escureceu
e vários cristais acenderam nas paredes, como se estivéssemos numa grande gruta.
Vi em seu rosto lágrimas de felicidade quando ele ajoelhou-se no meio de nossa
corrente e o teto se abriu mostrando o céu todo estrelado. Nesse momento, todos
ficaram incandescentes. Esse espírito subiu para as estrelas. Nesse momento senti uma vontade de ajoelhar e agradecer a Deus
por todas as dádivas alcançadas.
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Luciana e eu |
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Salve todos os Orixás da Umbanda
que nos fortalecem e nos guiam por todas as nossas encarnações!
Axé!