Por Cândida Camini
Era noite de assentamento do Amaci.
Os médiuns que iam chegando, na sua quase totalidade,
percebiam na pele e na alma, somente a energia reinante.
Na matéria, o Terreiro já estava pronto para o ritual.
No astral, desde a noite anterior já aconteciam os
preparativos.
Passo a relatar aqui o que a Luciana, médium clarividente do
grupo, pode perceber.
O Terreiro havia sido transformado em uma grande aldeia e no
congá, um enorme paredão de pedras, onde havia uma vertente de água pura e
cristalina.
O chão era de terra e ao redor, árvores enormes.
No centro da aldeia, no chão, onde na matéria havia sido
riscado um triângulo, que abrigaria os alguidares com os elementos de cada
médium, uma espécie de canaleta formava o triângulo, por onde corria a água que
vinha da vertente no congá.
No centro do triângulo, vários feixes de ervas, que os
Pretos Velhos haviam preparado na noite anterior.
Durante o ritual da defumação, vários índios passavam
energizando os médiuns com seus chocalhos e entoando cânticos.
Momentos antes da chegada do nosso Comandante, Ogum Beira
Mar, o chão do Terreiro aquecia e vibrava intensamente, tal era a energia
reinante.
Seu Beira Mar chega então, na vibração do seu ponto, entoado
pelos médiuns presentes.
Vestia uma armadura com elmo, toda em aço. Na mão uma espada
cravejada de pedras na empunhadura, pedras estas nas cores verdes e, ao centro
do cabo da espada, uma cruz com pedras vermelhas.
Ao erguer a espada, uma luz muito
forte refletiu direto nos alguidares e estes começaram a girar, impulsionados
por aquela energia.
Os médiuns cantavam os pontos,
chamando todas as linhas e, conforme os guias iam incorporando, a energia dos
alguidares mudava, identificando cada linha.
No momento da linha das águas, o
líquido dos alguidares fervia e, de alguns deles, a água saia de dentro do alguidar, formando um
redemoinho impressionante, tamanha a energia emanada pelas entidades.
As entidades femininas doavam luz
e cor aos alguidares, a todos sem exceção, e iam formando um lindo arco íris.
Liderando a Linha de Pretos
Velhos, Pai Joaquim de Cambinda chega e acende, com seu cachimbo, os feixes de
ervas que estavam no centro do triângulo. A fumaça que se formou foi encobrindo
e energizando um a um, todos os alguidares, que iam sendo cobertos pela fumaça,
quase desaparecendo.
Durante a energização dos
alguidares pelas entidades, elementos como água, fumaça, flechas energéticas, machados,
facas, lenços, ervas, espadas, laços, chicotes, riscavam o triângulo com uma
energia tão grande que pareciam raios.
Um dos Mestres da Linha do
Oriente fez levitar os alguidares, até unirem-se no alto, como se eles não
estivessem pesados. E de suas mãos saíram fios iluminados de um azul muito
intenso.
Ao se aproximar o término do
ritual, os espíritos presentes começaram a entoar cânticos, que não eram
exatamente os pontos que cantamos durante os trabalhos, cantavam em outras
línguas, índios e negros acompanhavam o ritmo pisando forte com os pés no chão,
o que produzia uma energia que ia envolvendo e firmando a corrente.
Antes do encerramento, Ogum Beira
Mar ergue uma cortina energética ao redor do triângulo onde permaneciam os
alguidares, como uma enorme teia de aranha e no alto do triângulo uma grande
flor brilhante de lótus, que emanava uma luz lilás.

Findava a primeira parte deste
importante Ritual da nossa amada Umbanda.
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Luciana e eu |
Os médiuns iam deixando o espaço
sagrado ainda vibrando naquela energia, e na expectativa do Ritual do Amaci propriamente
dito, de lavagem da cabeça, que aconteceria dois dias depois, e agradecendo ao
Pai Oxalá pela oportunidade de pertencer a esta egrégora, preparando-se para
mais um ano de trabalho na Umbanda.
Axé!