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terça-feira, 16 de agosto de 2011

Trabalho de Exu

Estou num canto do terreiro observando os trabalhos.
Os médiuns já estão em posição, todos já bateram cabeça.
Os pontos invadem o salão.
Na assistência pessoas que freqüentam a casa com assiduidade e outras que pisam pela primeira vez.
Sinto que algumas estão visivelmente emocionadas, seus protetores estão ali.
Outras estão suando frio, passam mal, estão agoniadas, afoitas para irem embora dali.
Espíritos trevosos estão atuando sobre elas, querem sair dali o mais breve possível, pois temem serem descobertos.
Certamente serão afastados e não poderão perturbar aquelas pessoas.
O dirigente dos trabalhos vibra com intensidade, na corrente um médium balança, parece que vai cair.
Percebo que seu Caboclo está por perto.
O Médium ainda é novo, não está totalmente integrado com seu guia, mas com paciência e amor breve o caboclo estará incorporando.
Na corrente muitos estão incorporados.
O Caboclo chefe toma o médium dirigente, como faz a décadas.
Brados de guerra são ouvidos.
Na medida que os irmãos da mata chegam trazem forte energia para todos.
Unidos numa só força eles, (através dos passes ministrados), retiram da assistência os eguns e kiumbas, limpam as pessoas que estão perturbadas, transmitem força e esperança.
As pessoas que antes choravam agora sorriem aliviadas.
Dores são aplacadas.
Vejo que muitas daquelas pessoas em breve estarão também recebendo seus guias.
Embora esteja acostumado a ver essas cenas sempre me emociono.
Daqui do meu canto, serenamente acompanho os trabalhos.
Subitamente uma jovem da assistência, põe-se a vociferar.
Sua voz antes melodiosa e serena torna-se grave e arrogante.
Ela tenta agredir os fiscais da casa que habilmente a conduzem para dentro do terreiro.
Sem dúvida o kiumba que a acompanha é muito perigoso.
Os Caboclos estão alertas.
Nem bem cruza a porteira o kiumba grita, xinga, tenta machucar a pobre moça, diante da mãe desesperada que se encontra na assistência.  
Os Caboclos abrem a roda, os atabaques soam mais altos.
O Caboclo chefe se adianta sobre ele, forte energia circula pelo corpo da jovem moça.
O Caboclo não quer que ela se machuque, ele vibra sua maraca e o Caboclo da menina pela primeira vez aproxima-se da filha com força.

Chegou minha hora, me aproximo calmamente.
O Kiumba evita meu olhar, se desespera.
Sorrio e caminho em sua direção, preparo minhas armas.
Ele grita, esbraveja.
O Caboclo pede meu apoio.
Não me faço de rogado para desespero do Kiumba de um salto estou com minha espada em sua garganta.
Domino-o com facilidade.
Chamo outros que o amarram e o levam para seu devido lugar.
Outros Kiumbas menores que o acompanhavam também são capturados, receberão seus castigos.
A moça acorda leve e feliz.
Os Caboclos terminam o descarrego, agradecem meu auxilio.
Eu volto para meu canto. Ali na cafua observo o fim dos trabalhos.
Minhas velas, meus charutos, meu marafo estão firmados.
Os trabalhos terminam, todos se vão felizes.
Na porteira estou de sentinela...

Alupo, Exu!

Autor desconhecido
  


3 comentários:

  1. Saravá, irmãos.

    Este texto me pareceu muito oportuno para o esclarecimento de uma grande dúvida, que carrego. Alguns centros de umbanda têm como linha de trabalho para o descarrego dos membros da assistência o que chamamos, popularmente, de puxada, prática cujo médium empresta o corpo para o transporte de espíritos obsessores. Particularmente, considero tal procedimento perigoso; não só por encontrar sérias implicações, mas, sobretudo, por acreditar que existam outros meios de se “limpar” um irmão em apuros; como exemplo, cito o caso de caboclos e exus, que executam magnificamente esse trabalho. Entre os senões, aponto os riscos de impressões negativas se alojarem no sistema nervoso do médium.
    O que vocês acham a respeito? Minha opinião não é definitiva; pelo contrário, solicito-lhes, inclusive, se não incomodar, textos sobre o assunto.

    Grato,
    Ricardo

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  2. Olá, Ricardo!

    O que vc chama de 'puxada', aqui no sul chamamos de 'dar passagem', ou seja, dar oportunidade para que um espírito se manifeste, seja ele obsessor ou simplesmente aquele que necessita do choque anímico para ser encaminhado.
    Acontece durante os atendimentos, se necessário, e antes do encerramento dos trabalhos.
    Consideramos este trabalho tão ou mais importante do que os atendimentos em si, já que a quantidade de espíritos aguardando esta oportunidade é infinitamente maior do que as pessoas que atendemos na matéria.
    Não se trata simplesmente de 'limpar um irmão em apuros', porque como vc disse, caboclos e exus fazem muito bem este trabalho.
    Durante um diálogo com um obsessor, tanto o obsidiado quanto os médiuns envolvidos no trabalho aprendem muito. Sem contar aqueles espíritos que precisam do choque anímico para serem atendidos e encaminhados.
    Conheço médiuns com mais de 20 anos de Umbanda que não apresentam sinais de 'impressões negativas se alojarem em seu sistema nervoso'.
    Claro que são médiuns preparados para este trabalho e que tem suas energias harmonizadas após o mesmo.
    Confiamos nos espíritos que nos guiam e dirigem nosso trabalho. São eles que decidem quem tem permissão para se manifestar e qual médium servirá de canal.
    Quanto aos textos, vou pesquisar o que temos por aqui ok?
    Grande abraço!
    Cândida
    Casa Pai Joaquim de Cambinda

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  3. Muito emocionante este texto, obrigado pro compartilhar.
    Motumba Axe...

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