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sábado, 21 de março de 2015

Quando o Coração Fala [8]

Então, o Matheus foi uma linda surpresa que chegou até nós no início de 2014, ingressou no grupo de estudos e no meio do ano já fazia parte da corrente mediúnica da casa.
O combinado é que os novos fiquem só camboneando, no início, mas impossível não aproveitar a capacidade mediúnica dele, a garra e a vontade de ajudar. Logo estava se oferecendo como médium de passagem e, em seguida, trabalhando no passe.
Como todo médium consciente, ainda mais em início de trabalho, as inseguranças fazem parte.
Segue relato dele e sua experiência com o novo cachimbo do Preto, Pai Cipriano das Almas.
Agô Pai Cipriano!

“Eu tenho medo vovô, eu tenho medo, da fumaça do cachimbo descobrir o meu segredo”.
Tudo começa com o processo de fazer um bolo: separar a clara da gema, bater as claras em neve, misturar a farinha, o açúcar, o fermento, levar ao forno e esperar que dê certo. Quando não a surpresa: o bolo não cresceu!
Quando trouxe o bolo para o terreiro, foram essas as palavras de um dirigente: 
'O segredo é fazer com amor'.
A história segue o desenrolar com um cachimbo: branco, curvo e com a ponteira vermelha, inexperiência e orgulho do médium.
Após a gira começar e sentir a vibração do Preto, estar acomodado em um canto do terreiro, o ponto já estar riscado na tábua com a pemba branca, servir o seu café e cumprimentar os médiuns e entidades, era a hora de testar o novo instrumento de trabalho. Mas como fumar um cachimbo se eu nunca havia fumado? Em um momento, todos os olhos se voltam para o médium, o nervosismo atrapalha a vibração, as mãos começam a tremer e a suar, a fumaça do cachimbo não sobe com facilidade. Há algo errado.
A matéria assume o espiritual e na ânsia de mostrar firmeza, o orgulho toma conta. 
Sim, pois ali já não era mais o preto que fumava, mas o médium que tentava imitar o que via os outros pretos fazerem ou seguir o manual que leu antes da gira de como fumar um cachimbo.
Segue novamente a história, são atendidos todos os consulentes e o espiritual decide inverter a história. Como se pegasse pela mão, o Preto decide ensinar seu modo de fumar e assim, longe de tantos olhares, sem a expectativa inicial e com um pouco mais de humildade a fumaça passa a subir. O preto demonstra que para não apagar o cachimbo, é necessário socar o fumo no fornilho mas, diferente dos outros médiuns, ele prefere usar o dedo. Depois é hora de ascender o cachimbo, com um isqueiro normal, aproximando o fogo do fumo e dando pequenas tragadas para que o calor se propague e o fumo queime uniformemente. Às vezes o cachimbo apaga, em outras, a fumaça que sai é pouca, às vezes nem é notada. Depois de fumado, basta limpar o cachimbo com aquelas ponteiras adequadas e está tudo terminado. Resta somente o preto do carvão nas mãos do médium e a sujeira nas calças.
Foi com a intenção do amor que foi levado o cachimbo e através daquela fumaça cheirosa se aprendeu uma lição: no momento da escolha do cachimbo e depois do fumo (um fumo de café, que o Preto gosta) sobre o amor. Se há na intenção o amor e o carinho, como podem médiuns proferir palavras que prejudicam ou machucam consulentes? 
Se há na intenção o amor, como é possível os médiuns irem com a mentalidade de primeiro serem ajudados para depois ajudar? Não sabem eles que através do amor (aqui na forma de caridade) recebe a mais benéfica ajuda como um sorriso de agradecimento e seus problemas somem ou ainda, sua energia se equilibra. 
Não através da mistificação de suas entidades, mas através do amor puro e simples. Como aquela historia da moça que ao chegar no terreiro deixou seus problemas em baixo da imagem de Ogum e após se doar mediunicamente, esqueceu até que os tinha colocado ali. Cofiante de que Ogum estivesse cuidando deles para ela.
Montando o cachimbo, aprendi que esses seres de luz, tem seu próprio modo assim como nós temos nossos gostos, escolhas e dificuldades. Que às vezes, muita pressão atrapalha assim como pouca pressão não fará com que o cachimbo permaneça aceso e se ele apagar é melhor acender várias vezes do que insistir em dar várias tragadas fortes, pois o calor poderá fazer com que o gosto do fumo se perca, ou seja, melhor insistirmos uma, duas, três vezes quantas forem necessárias e aproveitar esse momento do que simplesmente desistir. Tentamos de forma diferente.
Fumando, aprendi sobre as minhas expectativas e meu orgulho. Que muitas vezes, queremos que tudo dê certo, esperamos o reconhecimento sem o trabalho árduo e outras, queremos que a fumaça seja forte e branca para os olhos dos outros, quando na realidade o efeito não está na aparência, mas no prazer de fumar em si. Aprendi que é necessário um pouco de humildade e que a vaidade é só aquele carvão preto.
Limpando o cachimbo, aprendi que o preto do carvão não é sujeira. É parte do cachimbo e da experiência do fumar, como se nosso lado escuro fosse presente e inevitável, parte da nossa jornada e que deveríamos limpar e jogar fora para começar uma nova experiência muito melhor. Que o carvão que resta no cachimbo é importante para a maturação do gosto, como se as dificuldades que passamos não fossem esquecidas, mas melhorassem nosso ser. As manchas pretas nas calças e nas mãos são marcas também inevitáveis desse processo de evolução, aprendizado e, sobretudo prazerosa experiência.
E como no ponto, meu segredo foi descoberto pela fumaça do cachimbo do Cipriano:
“ Eu tenho medo vovô, eu tenho medo, da fumaça do cachimbo descobrir o meu segredo”.



Matheus Capra Ecker
Médium da Casa

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