Por Cândida Camini
Alupo, moço!
Alupo, moça!
Eu sou Maria Mulambo da Lixeira e, como o nome mesmo me
apresenta, trabalho onde o lixo domina.
Minhas lixeiras estão espalhadas por aí, sempre prontas para
receber o lixo que vocês acumulam em suas casas. E não tô aqui falando só das
casas materiais, tô falando, principalmente, das suas casas internas.
É tanta mágoa, tanto ódio, tanta inveja, que já não dou
conta de recolher tanto lixo.
Faz tanto tempo aquela traição, outras paixões já chegaram e
você segue lembrando do fato, remoendo a mágoa.
Faz tanto tempo que mudou de emprego, por outro melhor, é
importante lembrar, e você segue guardando rancor daquele superior que lhe
demitiu (mesmo sabendo que foi melhor pra você).
Aquela (ex) amiga que lhe disse coisas que lhe feriram (e
quanta verdade tinha naquelas palavras, não é mesmo?), nunca mais se falaram,
mas você não esquece.
E seguem as lamentações.
Meu trabalho é recolher este lixo todo e, nas minhas
lixeiras, transmutá-lo e devolver a você em forma de alegrias, saúde,
felicidade, amor.
Mas pra isso eu preciso que você acredite no quanto isto lhe
faz mal.
Então, ao entrar no Terreiro hoje, antes, deposite todo este
lixo na lixeira que coloquei ao lado do portão. Não , você não vai vê-la, mas
tenha certeza, ela está lá. Fazendo isso, você estará apto(a) a receber de
volta, ao sair, esta energia reciclada.
Mas lembre-se, não acumule tanto lixo. Comece com a sua casa
material, esvaziando os armários, as gavetas, doando o que não usa mais. E siga
não acumulando tantos sentimentos menores, que só fazem encher as minhas
lixeiras.
É meu trabalho, não reclamo dele. O que me incomoda é você
não fazer nada a respeito e voltar sempre do mesmo jeito, despejando seu lixo
para que eu recolha. Afinal, não é este o meu trabalho?
Alupo!